São Paulo, terça-feira, 28 de março de 2006

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ALCKMIN DEVE EXPLICAÇÕES

Ao tornar-se o presidenciável tucano, há duas semanas, Geraldo Alckmin prometeu "um banho de ética" na política federal. Vacilou na primeira chance de mostrar ao eleitorado brasileiro como trataria suspeitas de mau uso da máquina numa hipotética Presidência.
Foi insatisfatória a reação do governador de São Paulo aos indícios de que a sua gestão interveio na publicidade da Nossa Caixa para beneficiar deputados estaduais. O enunciado lacônico de Alckmin -"o governo não interfere em banco público"- não dirime as suspeitas levantadas por mensagens eletrônicas reveladas em reportagem desta Folha.
O governador disse ter ficado convencido de que a suspeita "não tem a menor veracidade" em conversa com o presidente da Nossa Caixa. Não se sabe o que o dirigente do banco teria afirmado a seu superior, mas, se erro houve, a direção da estatal foi no mínimo conivente, e sua palavra deveria ser confrontada com a de outros envolvidos em investigação isenta.
Se "não há ingerência política em banco público", por que o assessor de Comunicações do governador escreveu ao gerente de marketing da Nossa Caixa para lembrá-lo do "orçamento de nossa campanha"? Por que dele cobrou o envio do "plano" do banco ao publicitário que cuidava de contas da estatal? O afastamento do encarregado de imprensa do Bandeirantes, além de soar como uma confissão de que havia, sim, algo de errado, não esgota essas questões.
Não parecem conformes a padrão "eminentemente técnico" contratos de publicidade cujos destinatários sejam tratados, nas mensagens entre publicitário e banco, como "lixões". Pedir ajuda para "acalmar o deputado" tampouco se coaduna com propaganda tecnicamente orientada.
Dizer que as anomalias não serão investigadas por tratar-se de valores pequenos é comungar do ideário que livrou o beneficiário do "valerioduto" Professor Luizinho (PT-SP) da cassação. É preciso encarar os fatos, investigar e esclarecer as suspeitas. Não está em jogo apenas o interesse legítimo dos paulistas, mas a palavra empenhada por um governador que pretende tornar-se presidente.


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