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Aviões desgovernados
Lula confessa que seu governo não possui diagnóstico sobre causas da crise aérea, que desse modo só pode piorar
"EXIGI DELES um diagnóstico preciso,
porque um bom
médico só pode
acertar o remédio que vai dar para o seu paciente se ele souber
qual é a doença do paciente",
afirmou ontem o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva a respeito da
crise aérea. Em seguida, arrematou: "Eu quero prazo, dia e hora
para a gente anunciar ao Brasil
que não vai ter mais problemas
nos aeroportos brasileiros".
As enérgicas declarações presidenciais não mereceriam senão
elogios se fossem inéditas e o tumulto aeroviário tivesse começado ontem. Não é o caso. Os
transtornos remontam a outubro do ano passado, e Lula já exigiu uma solução para o problema
em pelo menos duas ocasiões
(6/12 e 21/ 12). Em outras tantas
sugeriu que a série de desditas se
aproximava do fim.
É para ser recebida com espanto, pois, a confissão de que o governo ainda não conta nem mesmo com um diagnóstico para a
crise. E, conforme a observação
acaciana do presidente, sem saber qual é a doença não é possível
acertar o remédio. De vez que
não é razoável esperar que as dificuldades se resolvam sozinhas,
pode-se concluir que os prometidos "prazo, dia e hora" para
anunciar o fim dos problemas
aeroportuários não passam de
mais uma balela.
A triste verdade sobre essa crise -provocada por muitos fatores entre os quais se destaca a
inoperância governamental- é
que sua solução está bem além
do horizonte observável.
Ao longo dos últimos quatro
anos, o total de passageiros
transportados cresceu 43,5%. E,
nesse período, apesar dos alertas
de técnicos, as verbas que deveriam ser destinadas à segurança
dos vôos (fundos aeronáutico e
aeroviário) sofreram contingenciamentos crescentes. Mesmo
agora, com a balbúrdia já instalada, o governo ainda não conseguiu executar nem mesmo 2%
das verbas previstas para o setor
em 2007, como mostrou a edição
de ontem do jornal "Valor".
A essa infra-estrutura esgarçada e até certo ponto obsoleta veio
somar-se o trágico acidente com
o Boeing da Gol, em setembro,
que deflagrou uma greve branca
dos controladores de vôo. A partir daí foi uma sucessão de colapsos atribuídos a razões tão diversas como panes de rádio e de radar, "overbooking", intempéries,
nevoeiros e até animais na pista.
Cada ocorrência, mesmo que
isolada, via-se magnificada pelo
formidável efeito cascata, ele
próprio uma conseqüência dos
gargalos na infra-estrutura.
A confusão tornou-se a regra e,
sob essas condições, cada um dos
diversos atores da trapalhada aeronáutica aproveita para tentar
passar o seu recado. As falhas no
sistema assim se escancaram.
Não se pode nem mesmo excluir
a hipótese de que determinados
grupos se valham da confusão
generalizada para empurrar erros para terceiros.
A operação-padrão dos policiais federais, em greve a partir
de hoje, deverá ampliar a desordem. A indolência do governo
Lula é mesmo espantosa: não pode nem anunciar que a crise tenha chegado ao fundo do poço.
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