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RUY CASTRO
Protestos fúnebres
RIO DE JANEIRO - No último sábado do verão, a praia de Copacabana amanheceu com 700 cruzes pretas fincadas na areia no trecho defronte ao Copacabana Palace. Era
um protesto contra a morte de
igual número de pessoas pela violência no Rio nos primeiros meses
do ano, segundo dados de uma
ONG (organização não-governamental) responsável pelo evento.
Naquela manhã, ao abrir as janelas e deparar com as cruzes, que
não estavam ali na véspera, os gringos hospedados no Copa devem ter
se encantado com a criatividade
brasileira. Que idéia para um comercial de TV -fazer da praia um
cemitério! Os bandidos foram ver e
também gostaram. Era um reconhecimento à sua capacidade de
implantar o terror.
Já o carioca, talvez pela morbidez
da idéia, passou ao largo. O espetáculo só atraiu os ativistas. Em compensação, foi intensamente filmado e fotografado -nada mais plástico que o Rio, não?-, e as imagens
correram o mundo, acompanhadas
de pouco ou nenhum texto.
Nesta segunda-feira, a mesma e
funérea ONG promoveu na Cinelândia, no centro da cidade, uma
passeata de "luto pelo Rio". O povo
foi convocado a usar camisas pretas
e portar velas acesas, como num
enterro. Apesar do horário -sete
da noite, com muita gente nas
ruas- e da tradição da Cinelândia
como palco de protestos, mais uma
vez apenas os ativistas prestigiaram.
Pelo visto, o carioca, já campeão
mundial de minuto de silêncio,
quer salvar o Rio, não enterrá-lo.
Performances inspiradas em Zé do
Caixão ou no "halloween" são só
uma dramaturgia pobre para a indústria do medo -esta, sim, séria-
que se tenta impor. Uma indústria
ideal para os síndicos que mandam
gradear os edifícios, para os blindadores de carros e fabricantes de insulfilme e para ONGs que se candidatam a consciência da população.
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