São Paulo, quarta-feira, 28 de março de 2007

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ANTONIO DELFIM NETTO

Pequena revolução

NOS ÚLTIMOS dias, o Brasil recebeu duas mensagens extraordinárias, capazes de abrir novos horizontes para o desenvolvimento econômico e social do país. A primeira foi apresentada pelo presidente Lula no dia 15 último. Trata-se do Plano de Desenvolvimento da Educação, criado pelo ministro Fernando Haddad.
Finalmente, pela primeira vez, o governo enfrentou o mais dramático problema nacional. Revelou uma nova ênfase no suporte ao futuro (a educação de crianças e jovens) correspondente à que, até agora, tinha dispensado ao passado (os idosos). O diagnóstico do setor no que respeita ao ensino na pré-escola, no fundamental e no técnico mostrou a crueldade com que tratamos o futuro e a formidável incompetência que tem acompanhado a educação no Brasil. A falta de controle da qualidade do ensino e de sua avaliação ao longo do aprendizado surpreenderam e horrorizaram o Brasil: mostrou um país em que pobres alunos e infelizes professores produzem analfabetos funcionais incapazes de compreender o significado de uma frase simples e absolutamente ignorantes da mais comezinha tabuada.
Num mundo onde o "motor do crescimento" é o conhecimento, nada pode ser mais preocupante do que a qualidade do ensino que estamos dando às nossas crianças e aos nossos jovens. Recusando-lhes um mínimo de igualdade de oportunidade, comprometemos a legitimidade da "economia de mercado". O PDE apresentado pelo ministro Haddad será, se realizado, uma pequena revolução com grande conseqüência. Juntando objetivos claros e seleção pelo mérito, com avaliação segura, competição e incentivos adequados para prefeitos, diretores, professores e alunos, ele poderá mobilizar e cooptar a vontade nacional em torno da eliminação do analfabetismo e dar à educação um papel muito maior do que uma necessidade econômica e social. Ela transcende esse utilitarismo: é ela que transforma o bípede animal em ser humano!
A segunda boa notícia foi o anúncio feito pelo secretário de Gestão Pública do Estado de São Paulo, Sidney Beraldo, de que o governo José Serra pretende eliminar os perniciosos aumentos lineares de salários na administração pública, introduzindo mecanismos objetivos de avaliação do funcionário e estabelecendo reajustes por merecimento. De novo, objetivos claros, avaliação e incentivos para atingi-los. Trata-se ainda de uma promessa, mas vale a pena estimular a sua realização.
O Brasil vai surpreender-se. Vai descobrir que o que nos falta mesmo é boa gestão, e não recursos!


contatodelfimnetto@uol.com.br

ANTONIO DELFIM NETTO
escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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