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ANTONIO DELFIM NETTO
Pequena revolução
NOS ÚLTIMOS dias, o Brasil
recebeu duas mensagens
extraordinárias, capazes de
abrir novos horizontes para o desenvolvimento econômico e social
do país. A primeira foi apresentada
pelo presidente Lula no dia 15 último. Trata-se do Plano de Desenvolvimento da Educação, criado
pelo ministro Fernando Haddad.
Finalmente, pela primeira vez, o
governo enfrentou o mais dramático problema nacional. Revelou
uma nova ênfase no suporte ao futuro (a educação de crianças e jovens) correspondente à que, até
agora, tinha dispensado ao passado
(os idosos). O diagnóstico do setor
no que respeita ao ensino na pré-escola, no fundamental e no técnico mostrou a crueldade com que
tratamos o futuro e a formidável
incompetência que tem acompanhado a educação no Brasil. A falta
de controle da qualidade do ensino
e de sua avaliação ao longo do
aprendizado surpreenderam e
horrorizaram o Brasil: mostrou um
país em que pobres alunos e infelizes professores produzem analfabetos funcionais incapazes de
compreender o significado de uma
frase simples e absolutamente
ignorantes da mais comezinha
tabuada.
Num mundo onde o "motor do
crescimento" é o conhecimento,
nada pode ser mais preocupante do
que a qualidade do ensino que estamos dando às nossas crianças e aos
nossos jovens. Recusando-lhes um
mínimo de igualdade de oportunidade, comprometemos a legitimidade da "economia de mercado". O
PDE apresentado pelo ministro
Haddad será, se realizado, uma pequena revolução com grande conseqüência. Juntando objetivos claros e seleção pelo mérito, com avaliação segura, competição e incentivos adequados para prefeitos, diretores, professores e alunos, ele
poderá mobilizar e cooptar a vontade nacional em torno da eliminação do analfabetismo e dar à educação um papel muito maior do que
uma necessidade econômica e social. Ela transcende esse utilitarismo: é ela que transforma o bípede
animal em ser humano!
A segunda boa notícia foi o anúncio feito pelo secretário de Gestão
Pública do Estado de São Paulo,
Sidney Beraldo, de que o governo
José Serra pretende eliminar os
perniciosos aumentos lineares de
salários na administração pública,
introduzindo mecanismos objetivos de avaliação do funcionário e
estabelecendo reajustes por merecimento. De novo, objetivos claros,
avaliação e incentivos para atingi-los. Trata-se ainda de uma promessa, mas vale a pena estimular a sua
realização.
O Brasil vai surpreender-se. Vai
descobrir que o que nos falta mesmo é boa gestão, e não recursos!
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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