São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Editoriais

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Imperdoável

NÃO PARECEM ter fim -e se tornam cada vez mais graves- as revelações de casos de pedofilia envolvendo clérigos da Igreja Católica.
O último escândalo, noticiado pelo jornal "The New York Times", lança sobre o atual papa Bento 16, no período em que chefiava a Congregação para a Doutrina da Fé, suspeitas sérias de omissão.
Em 1996, no Estado americano de Wisconsin, o clero local revolvia o caso de um padre que, de 1950 a 1974, cometera abusos contra mais de 200 meninos, durante o tempo em que servira a uma escola para crianças surdas. Autorizou-se a realização de um processo sigiloso. Este foi suspenso, entretanto, depois de o então cardeal Ratzinger ter recebido uma carta do acusado, que viria a morrer pouco depois.
A capacidade para o perdão constitui, por certo, parte importante do legado espiritual católico. Há uma diferença básica, contudo, entre a compaixão pelo pecador, de ordem essencialmente privada, e o esforço, de ordem corporativa e política, de preservar a instituição dos escândalos que a acometem.
Estes acabam vindo à tona -e a Igreja Católica, tradicionalmente votada ao segredo e à intransparência, tende a desmoralizar-se em tanto maior medida quanto mais procura abafar os delitos sob sua responsabilidade.
Lançar luz sobre casos de pedofilia e exigir sua punição nada tem a ver com preconceito anticlerical ou com algum tipo de campanha contra a igreja -como afirmou, tipicamente, a imprensa oficial do Vaticano.
De uma perspectiva leiga, moderna e democrática, nenhuma instituição, por mais veneranda que seja, está a salvo da investigação e do julgamento público; ainda mais quando se acumulam indícios de que sua autoridade e prestígio facilitam a realização, a continuidade e o acobertamento de atos da mais pura infâmia.


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