|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Imperdoável
NÃO PARECEM ter fim -e se
tornam cada vez mais
graves- as revelações de
casos de pedofilia envolvendo
clérigos da Igreja Católica.
O último escândalo, noticiado
pelo jornal "The New York Times", lança sobre o atual papa
Bento 16, no período em que chefiava a Congregação para a Doutrina da Fé, suspeitas sérias de
omissão.
Em 1996, no Estado americano
de Wisconsin, o clero local revolvia o caso de um padre que, de
1950 a 1974, cometera abusos
contra mais de 200 meninos, durante o tempo em que servira a
uma escola para crianças surdas.
Autorizou-se a realização de um
processo sigiloso. Este foi suspenso, entretanto, depois de o
então cardeal Ratzinger ter recebido uma carta do acusado, que
viria a morrer pouco depois.
A capacidade para o perdão
constitui, por certo, parte importante do legado espiritual católico. Há uma diferença básica,
contudo, entre a compaixão pelo
pecador, de ordem essencialmente privada, e o esforço, de ordem corporativa e política, de
preservar a instituição dos escândalos que a acometem.
Estes acabam vindo à tona -e
a Igreja Católica, tradicionalmente votada ao segredo e à intransparência, tende a desmoralizar-se em tanto maior medida
quanto mais procura abafar os
delitos sob sua responsabilidade.
Lançar luz sobre casos de pedofilia e exigir sua punição nada
tem a ver com preconceito anticlerical ou com algum tipo de
campanha contra a igreja -como afirmou, tipicamente, a imprensa oficial do Vaticano.
De uma perspectiva leiga, moderna e democrática, nenhuma
instituição, por mais veneranda
que seja, está a salvo da investigação e do julgamento público;
ainda mais quando se acumulam
indícios de que sua autoridade e
prestígio facilitam a realização, a
continuidade e o acobertamento
de atos da mais pura infâmia.
Texto Anterior: Editoriais: Dança dos números Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Mistério Índice
|