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CLÓVIS ROSSI
Mistério
SÃO PAULO - Durante a campanha eleitoral de 1989, Leonel Brizola almoçou nesta Folha e, a horas tantas, comentou que uma eventual vitória de Fernando Collor de
Mello seria "anti-histórica". Concordei com ele, em silêncio.
Como todo mundo sabe, Collor
ganhou. Decidi, também em silêncio, que não entendia absolutamente nada de como o eleitor brasileiro forma sua intenção de voto e
que era mais prudente, daí em
diante, dar palpites apenas quando
o Datafolha iluminasse o caminho.
Não é que, agora, nem o Datafolha ilumina algo? O resultado da
pesquisa mais recente, ontem publicada, é um denso mistério, ao
menos para mim. Não consigo encontrar uma explicação forte para o
fato de José Serra ter subido quatro
pontos em um mês. Atenção, hidrófobos do tucanato, não estou lamentando a subida, apenas tentando entendê-la.
Que Dilma Rousseff parasse nos
28% ou 27% é compreensível. Deve
ter havido uma pausa (ou interrupção definitiva, sabe-se lá) no empurrão que o prestígio do presidente Lula dá à sua candidata.
Mas o que houve para que Serra
subisse? Não vi nada no noticiário,
a menos que tenha perdido algo por
viajar frequentemente para o exterior, o que às vezes faz com que leia
apenas superficialmente os jornais
brasileiros.
Diminuíram as chuvas, é a hipótese levantada pelo meu guru do
Datafolha, Mauro Paulino. Pode
ser, mas, pela lógica, seria motivo
para que Serra estacionasse, não
para que subisse, certo?
Enfim, o resultado só me faz retornar à sensação de 20 anos atrás e
decidir deixar que o Datafolha me
surpreenda a cada tanto.
Sobre as críticas de Lula e Serra à
mídia, a melhor resposta foi dada
pelo próprio Lula, no início do governo, antes da fase megalomaníaca: "Notícia é o que a gente quer esconder; o resto é propaganda".
crossi@uol.com.br
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