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Magnífico equívoco
O QÜIPROQUÓ dos gastos de
reitores de universidades
federais já levou à renúncia de Timothy Mulholland da
UnB. Na Unifesp, Ulysses Fagundes Neto ainda permanece
no cargo, mas aparenta enredar-se mais e mais com as explicações que oferece sobre despesas
pagas com cartão corporativo.
Não tanto por comprovarem elas
malfeitos, em meio ao emaranhado de regras, mas sim porque
escancaram uma mentalidade
que constitui a raiz nutridora de
tantos escândalos.
Em dois anos, os dispêndios de
Fagundes Neto totalizaram R$
84,8 mil. Parte disso em compras
pessoais no exterior: R$ 2.473
em lojas de grifes esportivas na
Alemanha; R$ 1.411 em cerâmicas na Espanha; R$ 5.084 em
produtos eletrônicos nos EUA;
R$ 2.035 em malas na China...
"Eu me equivoquei", constatou
enfim o reitor, dois meses depois
das primeiras denúncias. "Achava que era como uma diária, um
dinheiro que você bota no bolso e
não tem de explicar. Errei por
falta de informação." No afã de
demonstrar isenção, Fagundes
Neto devolveu o valor total e
anunciou que pedirá reembolso
das despesas regulares.
"Falta de informação" é a defesa padronizada dos apanhados
com a fatura injustificável nas
mãos. O problema estaria na
opacidade das regras de uso dos
cartões, de fato necessitadas de
aperfeiçoamento, e não na conduta do portador. Há, no entanto, uma falha anterior: a noção de
que verbas para viagens, ou de
representação, compõem uma
remuneração indireta, prebenda
do cargo -"você bota no bolso e
não tem de explicar".
Eis aí um magnífico equívoco.
O fato de ser disseminado a ponto de parecer um traço cultural
não torna esse modo de pensar
mais legítimo. Por princípio, todo uso de dinheiro público está
vinculado a prestação de contas.
Se um reitor desconhece isso,
quanto mais não ignorará?
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