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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Quixote e sua hora
SÃO PAULO - A aliança demo-quercista patrocinada por José Serra, o padrinho da candidatura de
Gilberto Kassab, deixa Geraldo
Alckmin a pé na sucessão paulistana. A grande questão que se coloca
agora é: o ex-governador tucano vai
desistir da sua candidatura?
Aquele que divide a liderança
com Marta Suplicy -respectivamente 28% e 29%, segundo o Datafolha- aceitaria sair da disputa em
nome de um suposto acordo envolvendo o governo paulista em 2010?
E faria isso para se incorporar arrastado, como sócio menor, à aliança costurada por Serra em favor de
Kassab, hoje com 13%?
Ninguém tem a resposta, mas
Alckmin dá sinais enfáticos de que
não pretende ceder ao canto da sereia demo-quercista. Asfixiado, vê
na candidatura o único recurso capaz de conter seu esmagamento político precoce pela brigada serrista.
Mas, se já tinha dificuldades para
formular um discurso alternativo a
uma gestão municipal que na prática é tucana, Alckmin agora fica
muito desfavorecido na divisão do
tempo na TV. Pior, deixa exposta a
fragilidade de sua sustentação política, hoje restrita à sua pequena aldeia e à influência local muito limitada de figuras como Tasso e Aécio.
Resta-lhe, como consolo, a atuação
de uns poucos animadores sociais,
como o padre Marcelo Rossi.
Quem, entre os grandes grupos
do setor privado, vai derramar dinheiro numa candidatura que está
contra as máquinas municipal e estadual e não tem, como no caso de
Marta, o apoio do governo federal?
Sim, Alckmin corre o risco de virar um Quixote na disputa paulistana. Mas algo desse figurino pode lhe
ser útil. Por exemplo, quando invoca a memória de Mário Covas para
ressaltar o que haveria de moralmente abjeto na união dos antigos
pefelês com o quercismo sob a bênção do atual governador.
Ao amarrar o PMDB à reeleição
do prefeito, Serra prepara o seu
próprio terreno para 2010. Se der
certo, será o sucessor de Lula. Se
der errado, pode ficar marcado como aquele que ressuscitou Quércia
e enraizou o PFL em São Paulo.
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