São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Quixote e sua hora

SÃO PAULO - A aliança demo-quercista patrocinada por José Serra, o padrinho da candidatura de Gilberto Kassab, deixa Geraldo Alckmin a pé na sucessão paulistana. A grande questão que se coloca agora é: o ex-governador tucano vai desistir da sua candidatura?
Aquele que divide a liderança com Marta Suplicy -respectivamente 28% e 29%, segundo o Datafolha- aceitaria sair da disputa em nome de um suposto acordo envolvendo o governo paulista em 2010? E faria isso para se incorporar arrastado, como sócio menor, à aliança costurada por Serra em favor de Kassab, hoje com 13%?
Ninguém tem a resposta, mas Alckmin dá sinais enfáticos de que não pretende ceder ao canto da sereia demo-quercista. Asfixiado, vê na candidatura o único recurso capaz de conter seu esmagamento político precoce pela brigada serrista.
Mas, se já tinha dificuldades para formular um discurso alternativo a uma gestão municipal que na prática é tucana, Alckmin agora fica muito desfavorecido na divisão do tempo na TV. Pior, deixa exposta a fragilidade de sua sustentação política, hoje restrita à sua pequena aldeia e à influência local muito limitada de figuras como Tasso e Aécio. Resta-lhe, como consolo, a atuação de uns poucos animadores sociais, como o padre Marcelo Rossi.
Quem, entre os grandes grupos do setor privado, vai derramar dinheiro numa candidatura que está contra as máquinas municipal e estadual e não tem, como no caso de Marta, o apoio do governo federal?
Sim, Alckmin corre o risco de virar um Quixote na disputa paulistana. Mas algo desse figurino pode lhe ser útil. Por exemplo, quando invoca a memória de Mário Covas para ressaltar o que haveria de moralmente abjeto na união dos antigos pefelês com o quercismo sob a bênção do atual governador.
Ao amarrar o PMDB à reeleição do prefeito, Serra prepara o seu próprio terreno para 2010. Se der certo, será o sucessor de Lula. Se der errado, pode ficar marcado como aquele que ressuscitou Quércia e enraizou o PFL em São Paulo.


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