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A gripe suína
Novo subtipo de vírus causa alerta planetário, porém cabe esperar por informação mais segura
e não induzir pânico
UMA GRIPE de origem
suína aparece como
nova candidata a pandemia e causa apreensão pelo mundo. Tal apreensão
ameaça degenerar em alarme,
mas não há razões objetivas para
tanto, nesta fase inicial de obtenção de informações sobre a
doença, ainda pouco conhecida.
A Organização Mundial da
Saúde declarou emergência de
saúde pública internacional no
sábado. Ontem, elevou o nível de
alerta de 3 para 4, numa escala
que vai até 6. Ainda assim, é cedo
demais para traçar paralelos
com a mais famosa das pandemias, a de 1916-1918, que vitimou 50 milhões de pessoas, segundo estimativas.
Epidemias de gripe surgem
porque o vírus causador, o influenza, sofre mutações que o
tornam mais transmissível e
agressivo, ou facilitam a infecção
entre espécies suscetíveis, como
pássaros, porcos e humanos.
Além disso, o crescimento exponencial das viagens de avião espalha doentes e portadores pelos
continentes, multiplicando as
oportunidades de contágio por
todo o globo em questão de dias.
O vírus influenza de origem
aviária, A/H5N1, tornou-se capaz de infectar humanos e, desde 2003, foi responsável por 421
casos confirmados e 257 mortes,
em 15 países. A doença permaneceu, porém, mais restrita a
quem tinha contato com as aves.
O vírus agora suspeito de causar mortes no México e casos
não letais nos Estados Unidos,
além de suspeitas sob investigação em muitas nações, foi identificado como subtipo A/H1N1.
Ele contém elementos genéticos
típicos de vírus aviários, suínos
ou humanos. Transferiu-se de
porcos para pessoas provavelmente por contato de criadores
com a secreção nasal dos animais. Teme-se que o mesmo
passe a ocorrer em escala maior
entre seres humanos, que vivem
em contato mais estreito.
Autoridades de saúde encontram-se na delicada posição de
avaliar as necessárias medidas
preventivas e de informação à
população ante o risco de desencadear pânico desnecessário.
Não é um equilíbrio fácil de
manter, ao contrário. A precipitação pode conduzir a efeitos tão
ou mais graves do que a esperada
epidemia, se esta não se materializar com virulência.
Em 1976, recrutas de Nova
Jersey (EUA) contraíram gripe
de origem suína que se acreditava similar à de 1916-1918. O surgimento de casos suspeitos na
Virgínia deslanchou uma vacinação em massa. No entanto, ela
acabou suspensa após dez semanas, pois avolumavam-se complicações decorrentes da própria
vacinação. Ao final, a gripe matou uma pessoa; os efeitos adversos da vacina vitimaram 25.
Mais recentemente, outra
doença de origem viral, a Sars
(síndrome respiratória aguda
grave), galvanizou o planeta. De
novembro de 2002 a agosto de
2003, 8.096 pessoas foram infectadas, segundo a OMS. Houve
774 mortes, mas não a pandemia
apocalíptica que alguns previam.
O momento é de prontidão,
não de pânico. Até que se confirmem o nexo causal do A/H1N1
com todas as mortes suspeitas e
uma taxa alta de transmissão entre humanos, não há muito a fazer senão aguardar com serenidade as conclusões abalizadas
dos epidemiologistas.
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