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CLÓVIS ROSSI
Abutres, fora
SÃO PAULO - Desde que terminou a entrevista coletiva em que a
ministra Dilma Rousseff falou muito claramente sobre o câncer linfático que a acometeu, comecei a escrever mentalmente um texto com
o título acima.
No fundo, bem lá no fundo, tinha
a esperança de que não precisaria
usar o tema. Até ler ontem o texto
em que Larissa Guimarães e Eliane
Cantanhêde relatam "o apetite da
própria base aliada para disputar a
cabeça de chapa em 2010", após o
anúncio de Dilma.
Era exatamente o que temia: que
os abutres se assanhassem todos e,
claro que pelas costas, passassem a
afiar as adagas para cravar na ministra, usando o pretexto da doença, por mais que os médicos jurem
que há 90% de chances de que Dilma fique curada.
Nada contra criticar a ministra
Dilma. Nada contra criticar a candidata Dilma. Faz parte do jogo político, de preferência dentro de limites
civilizados, o que nem sempre ocorre no Brasil.
Aliás, é agradável reconhecer
que, depois do jogo sujo usado por
Fernando Collor de Mello contra
Luiz Inácio Lula da Silva em 1989,
os pleitos seguintes no Brasil até
que foram civilizados.
O problema, agora, seria desrespeitar não a ministra ou a candidata, mas o ser humano. Dilma merece que lhe deixem em paz ao menos
durante os quatro meses em que se
submeterá a quimioterapia. Depois, cabe a ela -e exclusivamente a
ela- decidir se se sente ou não em
condições de ser candidata.
Tomada essa decisão, aí, sim, o
partido resolve se ela é ou não a
candidata ideal, por seu valor como
política e/ou como administradora,
não pelas suas condições de saúde,
que, repito, só ela e seus médicos
podem avaliar.
Enquanto isso, que os abutres
disfarcem o "apetite". Tudo o que a
emporcalhada política brasileira
dispensa, a esta altura, é o desrespeito a um ser humano.
crossi@uol.com.br
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