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JOSÉ SARNEY
A China e a
princesa Mazako
Helmut Schmidt, ex-chanceler
da Alemanha, notável estadista,
fazendo visões e profecias sobre o século 21, disse que "o novo e o atual século será da Índia, e não da China".
Eu, de minha parte, não concordo. A
China é uma fascinação, e sua contribuição à historia da humanidade, com
seu acervo de valores acumulados há
milênios, assegura o grande despontar que já começou.
Mas os argumentos de Helmut
Schmidt não são de jogar fora. Diz ele
que a Índia tem, também, civilização e
história que rivalizam com as da China. Invoca a inclinação dos indianos
para o pensamento abstrato e as universidades do mundo inteiro cheias
de indianos em áreas de ponta. Ajunta
o argumento de que os ingleses lhes
deram um instrumento valiosíssimo
na competição mundial: a língua, o inglês, que tende a ser o moderno instrumento de comunicação dos negócios, da ciência e, sobretudo, da informática. Por outro lado, os ingleses deixaram na Índia instituições políticas
que têm funcionado. Esse é um gargalo por que a China ainda não passou.
Os programas de controle de natalidade estão dando melhor resultado na
China do que na Índia. Esta, em breve,
pode ter a sua população ultrapassando a da China. A verdade é que os próximos séculos estarão provocando
grandes contorções e transformações
naquela região.
Quando estava na Presidência da
República, achei que aquela história
de sermos o último do Primeiro Mundo era furada. Busquei um relacionamento privilegiado com países do
nosso porte, como China, Índia e Rússia. De todos esses países, o mais sensível a essa política foi a China. Ali estive e expus a Deng Xiao Ping esse ponto de vista. Disse-lhe que queríamos
ter estreita e especial relação com a
China. Com a velha sabedoria chinesa,
disse-me que o tempo era importante
para consolidar relações entre países.
Aprovava a parceria e esperava que os
anos a consolidasse. Abrimos essa estrada com um acordo de lançamento
de satélites, um deles já em órbita, e estabelecemos mecanismos de cooperação cultural, comercial e espacial.
Agora, a China volta com todo vapor e
volta bem, com fortes investimentos
no Brasil.
Se a China e a Índia se movimentam
em grande forma, o Japão enfrenta recessão e um problema sério: a princesa Mazako não teve até agora um filho
varão, está triste, deprimida. O príncipe Naruhito, no cumprimento dos deveres conjugais, deve se esforçar e ter
esperança, pois Luís 13, da França,
passou 20 anos para que afinal chegasse seu filho Luís 14. No Brasil, superamos a maldição dos Braganças da
morte dos primogênitos e tivemos
dom João 6º e dom Pedro 1º no lugar
de seus irmãos falecidos. Pedro 2º teve
o primeiro filho, Afonso, morto. Depois veio a princesa Isabel, a musa da
Abolição. Por último veio um outro
homem, Pedro, que também morreu
cedo. O regente Lima e Silva dizia orgulhoso sobre Pedro 2º, para mostrar
como é bom ver um príncipe herdeiro: "Nestes braços o apresentei à corte.
Com minha boca o aclamei no Campo
de Santana, e com meu coração fiz tudo para conservar-lhe a coroa".
A princesa Mazako, coitadinha, prisioneira no Palácio Imperial, sonha
com um filho, e Lula, feliz e solto na
viagem, faz negócios na China.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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