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SERGIO TORRES
Dinheiro para o povo
RIO DE JANEIRO - O aproveitamento eleitoreiro das desgraças sociais é
uma das mais vergonhosas marcas
da política brasileira. Neste ano, deveremos ter no Rio exemplos evidentes dessa característica, digamos assim, nacional.
A começar pela Rocinha, reduto da
última grande batalha do tráfico na
capital fluminense. Digo grande porque as pequenas ocorrem todos os
dias. Nem a polícia, nem os jornalistas, nem os governantes ligam mais
para isso.
Na Semana Santa, a favela explodiu com a invasão de uma quadrilha
em busca do controle da venda de
drogas: mais de dez mortos, cadáver
em carrinho de mão, pânico, terror, o
de sempre.
Depois disso, autoridades do governo estadual tiveram várias reuniões
com líderes locais. Anteontem, o vice-governador Luiz Paulo Conde anunciou o resultado das discussões. Um
plano de melhorias em saneamento,
educação, saúde, urbanismo, cultura,
ambiente e esporte. A ser implantado
ainda em 2004.
Escondida no fim do informe oficial
do governo está a decisão de ampliar
a distribuição de leite, de cestas de comida e até de dinheiro (Programa
Cheque Cidadão) aos mais pobres da
Rocinha.
O Cheque Cidadão consiste na entrega de cupons de R$ 100 para famílias que ganham até um terço do salário mínimo por pessoa. O cupom
vale dinheiro em mercados conveniados. Desde a sua criação, em 2000, pelo então governador Anthony Garotinho, o programa tem sido apontado
por adversários como manipulador
da intenção de votos de eleitores miseráveis.
Conde é o pré-candidato do PMDB
à Prefeitura do Rio. Para vencer, terá
de superar o prefeito Cesar Maia, o
PT e a rejeição dos cariocas aos Garotinho, sempre eleitos com uma maioria de votos interioranos.
Sem discutir a intenção do postulante a prefeito, não fica bem em ano
eleitoral candidato dar comida e dinheiro para eleitor. Parece troca de
favores.
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