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ALBA ZALUAR
Perdeu, perdeu
ESSA É a saudação recebida pelos assaltados no Rio de Janeiro. Não é por acaso. Senão
vejamos.
O processo de globalização tem
sido diagnosticado como a era da
sociedade pós-moderna, pós-industrial, informacional, assim como a era da incerteza. Pelo lado positivo, a extensa rede de comunicação no planeta, a rapidez e o alcance com que produtos, idéias, modelos e pessoas viajam têm contribuído para diminuir o desconhecimento dos outros e para aumentar
o hibridismo cultural ou uma cultura cosmopolita, conhecidos no
Brasil há mais de um século. Pelo
lado negativo, a economia globalizada tornou mais informal, precário e desprotegido o trabalho, mais
incerto o futuro, ainda mais difícil
a idealização de projetos coletivos,
mais improvável o laço que mantém unidos militantes de partidos
de massa ou de associações de classe.
A divisão principal parece não se
dar mais entre classes sociais opostas, mas entre vencedores e perdedores. O domínio da lógica utilitarista do mercado sobre as demais
instâncias da vida social e política,
a divisão de nações, grupos e pessoas entre vencedores e perdedores fazem da competição uma inexorável atividade humana. O que se
segue é aquilo que na ciência política se chamou jogo soma zero: ou se
ganha, ou se perde.
Ora, há jogos em que todos perdem ou todos ganham. Quando essa lógica afeta os sistemas de proteção social, a vida política e o tecido
social, feito de delicadas inter-relações e conexões, todos perdem, ou
seja, cada um de nós paga um preço
pelos danos sofridos coletivamente.
Não estão em jogo apenas os valores individualistas e mercantis
selvagens que se disseminaram durante os anos 70 e 80 em países como o Brasil, traduzidos pelas expressões corriqueiras ""fazer dinheiro fácil" e "tirar vantagem de
tudo", também próprios dessa nova fase do capitalismo globalizado.
O impacto da colonização pelo
mercado é óbvio: perderam-se os
limites morais usualmente fornecidos pelo social e pelo institucional consolidado. E, ainda mais, perderam-se laços sociais, enfraqueceram-se os vínculos necessários
entre figuras de autoridade e seguidores, entre mestres e aprendizes.
Apostar ainda mais nesse novo
abismo é continuar o jogo em que
todos perdem, mesmo que aparentemente lutando por reivindicações imediatas importantes. Escalar o exigido, escolher e depois abusar do uso da força, ignorar as possibilidades de mediação e diálogo
só vem aumentar o individualismo
atomizado do perdeu, perdeu; ganhou, ganhou. Que a crise na USP
consiga superar esse dilema pós-industrial.
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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