São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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RUY CASTRO

Orgia das farmácias

RIO DE JANEIRO - No Rio, há quase tantas farmácias quanto botequins ou casas de sucos. Se você acha isso um avanço, errou. As farmácias tornaram-se apenas pontos privilegiados que vendem de quase tudo: fralda, xampu, pente, bombom, chicletes, secador de cabelo, pilha de celular, cortina de banheiro e chinelo de dedo. O quase vai por conta daquilo que mais lhes falta em estoque: remédios.
Pudera -não há nem espaço para eles. Como já estou na idade de freqüentar farmácias, passei a observar. Há certos medicamentos que nenhuma delas tem -culpa, presumo, dos laboratórios. E há outros que elas "têm", mas precisam ser solicitados a uma espécie de central, em Júpiter ou em Brás de Pina, e que só ficam "disponíveis" em dois ou três dias, independentemente de você estar estrebuchando ao balcão -e, nesse caso, a culpa será apenas das farmácias.
Mas tais lacunas no estoque não perturbam a prosperidade delas. Na zona sul do Rio, a média é de seis farmácias por quarteirão -no Leblon, mais-, e elas não param de abrir. Cada qual com o letreiro ou fachada mais agressivo, cafona e abusivo que o da concorrência. De longe, algumas podem ser confundidas com o McDonald's.
A maioria dos empregados também parece recrutada entre os excedentes das lanchonetes ou butiques. Seu desconhecimento do que vendem é tal que, não importa o remédio que se peça -e que só falta saltar da prateleira, de tão visível-, eles têm de recorrer ao computador para saber se existe. Que fim levou o farmacêutico experiente, amigo do cliente e com diploma na parede?
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, quer disciplinar a orgia das farmácias. Se conseguir fazer isto antes que elas acabem de se converter num ramo dos eletroeletrônicos ou do comércio de secos e molhados, será uma vitória e tanto.


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