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RUY CASTRO
Orgia das farmácias
RIO DE JANEIRO - No Rio, há
quase tantas farmácias quanto botequins ou casas de sucos. Se você
acha isso um avanço, errou. As farmácias tornaram-se apenas pontos
privilegiados que vendem de quase
tudo: fralda, xampu, pente, bombom, chicletes, secador de cabelo,
pilha de celular, cortina de banheiro e chinelo de dedo. O quase vai
por conta daquilo que mais lhes falta em estoque: remédios.
Pudera -não há nem espaço para
eles. Como já estou na idade de freqüentar farmácias, passei a observar. Há certos medicamentos que
nenhuma delas tem -culpa, presumo, dos laboratórios. E há outros
que elas "têm", mas precisam ser
solicitados a uma espécie de central, em Júpiter ou em Brás de Pina,
e que só ficam "disponíveis" em
dois ou três dias, independentemente de você estar estrebuchando
ao balcão -e, nesse caso, a culpa será apenas das farmácias.
Mas tais lacunas no estoque não
perturbam a prosperidade delas.
Na zona sul do Rio, a média é de seis
farmácias por quarteirão -no Leblon, mais-, e elas não param de
abrir. Cada qual com o letreiro ou
fachada mais agressivo, cafona e
abusivo que o da concorrência. De
longe, algumas podem ser confundidas com o McDonald's.
A maioria dos empregados também parece recrutada entre os excedentes das lanchonetes ou butiques. Seu desconhecimento do que
vendem é tal que, não importa o remédio que se peça -e que só falta
saltar da prateleira, de tão visível-,
eles têm de recorrer ao computador
para saber se existe. Que fim levou o
farmacêutico experiente, amigo do
cliente e com diploma na parede?
O ministro da Saúde, José Gomes
Temporão, quer disciplinar a orgia
das farmácias. Se conseguir fazer isto antes que elas acabem de se converter num ramo dos eletroeletrônicos ou do comércio de secos e molhados, será uma vitória e tanto.
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