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KENNETH MAXWELL
Nova Mazagão
EM 1769, SEBASTIÃO José de
Carvalho e Melo, mais conhecido por seu título posterior
de marquês de Pombal, decidiu
abandonar a fortaleza portuguesa
de Mazagão, na costa do Marrocos.
Foi uma decisão sensata. Havia 120
mil soldados do sultão Sida Mohamad cercando a cidade fortificada
de 2.092 habitantes.
Mazagão havia sido fundada em
1513, no ápice da expansão portuguesa. Mas os dias do grande império asiático de Portugal eram há
muito coisa do passado. No século
18, os portugueses haviam transferido seu foco ao Brasil.
Quanto a Mazagão, a guarnição e
a população foram retiradas. Em 11
de março, os moradores começaram a destruir tudo aquilo que não
podiam carregar. Em três dias haviam partido, atravessando o portão da cidade em direção ao mar,
onde foram apanhados por barcos
que os transportaram até a frota
que esperava ao largo.
Mas Mendonça Furtado, o irmão
de Sebastião José, não queria que a
história terminasse assim. Ele havia servido como governador do
Grão-Pará e Maranhão, no Brasil,
e, depois de seu retorno a Lisboa,
tornou-se ministro da marinha e
das colônias ultramarinas. No Brasil, ele havia demarcado a fronteira
amazônica e estabelecido fortalezas em posições importantes, tudo
isso como parte do novo acordo de
fronteiras assinado com a Espanha
sob o Tratado de Madri, em 1750.
Ele tinha um propósito imperial
em mente para os antigos moradores de Mazagão. Pretendia enviá-los a Belém e de lá para a margem
norte do rio Amazonas, onde fundariam uma "nova" Mazagão. Em
1770, decidiu instalar a cidade no
rio Mutuacá, no local anteriormente ocupado por uma missão jesuíta.
Os moradores de Mazagão foram
virtualmente mantidos prisioneiros no mosteiro dos Jerônimos, em
Portugal, enquanto aguardavam os
navios que os transportariam ao
Brasil. Quando chegaram a Belém,
em 1771, foram mandados em canoas para sua nova cidade. Por volta de 1778, 1,8 mil deles haviam sido
transferidos.
Mas a "Nova Mazagão" estava situada em uma várzea. As edificações começaram lentamente a ruir
em torno de seus habitantes, a começar pela igreja, em 1779. Em
1783, Lisboa reconheceu o fracasso
da experiência e os moradores foram autorizados a partir.
"Uma odisseia trágica" é a descrição que o historiador francês
Laurent Vidal, da Universidade de
La Rochelle, oferece sobre o acontecido, tanto em seu novo e maravilhoso livro "A Cidade que Atravessou o Atlântico" como em um
artigo sobre a história de Mazagão
publicado na edição de abril da
"Revista de História da Biblioteca
Nacional".
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI.
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