São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2010

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Olhar para a frente

Debate precisa avançar em questões relativas ao futuro da economia, que vai bem, mas apresenta algumas tendências preocupantes

O resultado de maio das contas externas brasileiras confirma a tendência de desequilíbrio que já se desenhava. O deficit em transações correntes atingiu US$ 4,6 bilhões no mês e pode fechar 2010 próximo a US$ 60 bilhões (equivalente a pouco mais de 3% do PIB). Em paralelo, houve redução no volume de entrada de investimentos diretos, para apenas US$ 2,2 bilhões no mês, menos de metade do deficit do período.
É verdade que o saldo comercial permaneceu positivo, graças às exportações de commodities, favorecidas por forte aumento de preços. Já as exportações de produtos manufaturados continuam fracas -menos de 30% do declínio ocorrido nos últimos meses de 2008 foi recuperado.
O resultado é que o financiamento do deficit brasileiro fica cada vez mais dependente de fluxos financeiros de curto prazo. Pode ser que a entrada de investimento externo melhore, mas o período de sobra de recursos internacionais parece ter ficado para trás.
Não se trata de prever uma crise cambial, já que o país tem reservas e a situação pode ser administrada. Mas a tendência ao desequilíbrio é perigosa -e não deixa de ser um atestado do fracasso da política econômica em estimular a competitividade das empresas.
A economia do Brasil alcançou, nos últimos anos, resultados bastante positivos. Há no entanto fragilidades -não apenas nas contas externas- que precisarão ser enfrentadas pelos próximos governantes. E o que os postulantes à Presidência da República pensam a esse respeito?
A sabatina promovida nesta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi uma tentativa de ouvi-los, mas o resultado, ao menos quanto aos dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas, deixou a desejar.
A petista Dilma Rousseff prometeu realizar uma reforma tributária em cem dias. Seria ótimo, mas diante da complexidade do tema a promessa soa, para dizer o mínimo, irrealista. Também a desoneração completa de bens de capital, investimentos e exportações, sugerida pela ex-ministra, não parece crível. Se o governo diz que hoje não há dinheiro para isso, por que haveria em 2011?
Já o tucano José Serra investiu, como de hábito, contra os juros altos e o real valorizado, acusando o governo Lula de desindustrializar a economia do país. Criticou o loteamento, a alta carga tributária e o baixo investimento público federal. Mas ainda não conseguiu explicar como encontrará um novo equilíbrio entre juros, câmbio e gastos públicos.
Os sabatinados se comprometem a manter o famoso tripé câmbio flutuante, superavit primário e metas de inflação. É um compromisso a essa altura protocolar -e insuficiente. O país terá de avançar em muitas frentes na próxima década. Seria bom saber o que os postulantes pensam sobre isso.


Próximo Texto: Editoriais: As duas faces de Obama

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.