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Editoriais
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Olhar para a frente
Debate precisa avançar em questões relativas ao futuro da economia, que vai bem, mas apresenta algumas tendências preocupantes
O resultado de maio das contas
externas brasileiras confirma a
tendência de desequilíbrio que já
se desenhava. O deficit em transações correntes atingiu US$ 4,6 bilhões no mês e pode fechar 2010
próximo a US$ 60 bilhões (equivalente a pouco mais de 3% do PIB).
Em paralelo, houve redução no
volume de entrada de investimentos diretos, para apenas US$ 2,2
bilhões no mês, menos de metade
do deficit do período.
É verdade que o saldo comercial
permaneceu positivo, graças às
exportações de commodities, favorecidas por forte aumento de
preços. Já as exportações de produtos manufaturados continuam
fracas -menos de 30% do declínio ocorrido nos últimos meses de
2008 foi recuperado.
O resultado é que o financiamento do deficit brasileiro fica cada vez mais dependente de fluxos
financeiros de curto prazo. Pode
ser que a entrada de investimento
externo melhore, mas o período
de sobra de recursos internacionais parece ter ficado para trás.
Não se trata de prever uma crise
cambial, já que o país tem reservas e a situação pode ser administrada. Mas a tendência ao desequilíbrio é perigosa -e não deixa
de ser um atestado do fracasso da
política econômica em estimular a
competitividade das empresas.
A economia do Brasil alcançou,
nos últimos anos, resultados bastante positivos. Há no entanto fragilidades -não apenas nas contas
externas- que precisarão ser enfrentadas pelos próximos governantes. E o que os postulantes à
Presidência da República pensam
a esse respeito?
A sabatina promovida nesta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi uma tentativa de ouvi-los, mas o resultado, ao menos quanto aos dois candidatos mais bem posicionados
nas pesquisas, deixou a desejar.
A petista Dilma Rousseff prometeu realizar uma reforma tributária em cem dias. Seria ótimo,
mas diante da complexidade do
tema a promessa soa, para dizer o
mínimo, irrealista. Também a desoneração completa de bens de
capital, investimentos e exportações, sugerida pela ex-ministra,
não parece crível. Se o governo diz
que hoje não há dinheiro para isso, por que haveria em 2011?
Já o tucano José Serra investiu,
como de hábito, contra os juros altos e o real valorizado, acusando o
governo Lula de desindustrializar
a economia do país. Criticou o loteamento, a alta carga tributária e
o baixo investimento público federal. Mas ainda não conseguiu
explicar como encontrará um novo equilíbrio entre juros, câmbio e
gastos públicos.
Os sabatinados se comprometem a manter o famoso tripé câmbio flutuante, superavit primário e
metas de inflação. É um compromisso a essa altura protocolar -e
insuficiente. O país terá de avançar em muitas frentes na próxima
década. Seria bom saber o que os
postulantes pensam sobre isso.
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