São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Crédito dirigido pela demanda
FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA
Ora, o spread (diferença entre a receita e a despesa) é muito maior com crédito do que com títulos. Os bancos tendem a ganhar mais em operações de crédito. Eles apreçam o risco de crédito e estipulam cada taxa de juros de acordo com prazos determinados para os empréstimos. Entretanto essa decisão de concessão de empréstimos não é unilateral. A oferta efetiva "ex post" (não a potencial, "ex ante") depende da demanda por crédito. E esta relaciona-se com as condições em que os bancos estão dispostos a ofertar empréstimos diante das condições dos clientes. Taxas de juros baixas não implicam de imediato expansão da demanda do crédito. Elas não são o determinante em primeira instância da contratação de um crédito pessoal, pois fatores como necessidades básicas de consumo, precaução (segurança no emprego), custo de oportunidade do capital próprio, restrição cadastral e prazo são decisivos para uma pessoa física. Já decisões de investimentos (e demanda de crédito por pessoa jurídica) dependem também de outros fatores. O primeiro é o risco crescente com o grau de endividamento, ou seja, depende da capacidade de autofinanciamento. O estado de confiança, as expectativas de lucro e as perspectivas de venda também devem ser considerados. Logicamente, o grau de utilização da capacidade produtiva é levado em conta. Finalmente, pesa a onda tecnológica -se é um projeto inovador com alta taxa de retorno. Em outras palavras, nenhum cliente responsável demandará crédito se não tiver uma perspectiva segura de conseguir pagá-lo. Para isso, o rendimento esperado deve ser superior ao custo do endividamento a ser assumido. Isso ainda não ocorre em todos os setores produtivos. No caso dos financiamentos com recursos direcionados, cujas taxas de juros são menores do que as de mercado, há sempre demanda por crédito. No ano passado, os empréstimos com esses recursos cresceram 13,7%, bem acima dos empréstimos com recursos livres, cuja taxa de crescimento (6%) ficou abaixo da taxa de inflação (IPCA de 9,3%). Por isso, os créditos concedidos por bancos públicos cresceram 16,8% e os por bancos privados, somente 3,8%. Como foram contratados predominantemente no último trimestre de 2003 (com exceção do crédito rural), os desembolsos dos recursos direcionados estão ocorrendo neste ano. Quando se juntarem com os desembolsos dos orçamentos do BNDES (R$ 47 bilhões), Banco do Brasil (R$ 20 bilhões), Caixa Econômica Federal (R$ 11 bilhões), fundos de pensão (R$ 10 bilhões), OGU (R$ 10 bilhões) e empresas estatais (R$ 38 bilhões), provavelmente esses recursos propiciarão a elevação da taxa de investimento. A partir da geração desse multiplicador de renda, a demanda por crédito em operações com recursos livres deve deslanchar. No caso da Caixa, cerca de 73,5% dos créditos estão contratados em condições não praticadas por bancos privados, pois atendem às políticas públicas. Praticamente não geram spread. A estrutura do banco tem custos que devem ser recompensados em operações do segmento livre. As operações comerciais (26,5% do total de créditos) possibilitam um spread significativo. Desde o ano passado, as taxas de juros das operações de crédito para aposentados e das com desconto em folha de pagamento acompanharam a tendência de queda da taxa básica de juros da economia, a Selic. Os níveis de inadimplência caíram, demonstrando que taxas menores de juros se compatibilizam melhor com o orçamento dos devedores. Essas operações de crédito foram elásticas em relação ao seu preço, ou seja, com o menor nível dos juros, foi maior o volume de crédito concedido. Sendo assim, a redução da taxa de juros não afetou negativamente o resultado bruto da intermediação financeira, pois a perda de receita em cada operação foi mais do que compensada pelo ganho de escala na massa de operações. Essa experiência bem-sucedida sugere que o melhor para todos, devedores e credores, é a retomada da tendência de queda na taxa de juros. Fernando Nogueira da Costa, 52, professor licenciado do Instituto de Economia da Unicamp, diretor-executivo da Febraban, é vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: João Silvério Trevisan: Por que celebrar o orgulho gay? Índice |
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