São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2010 |
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NELSON DE SÁ Umbabarauma Às vésperas da Copa, a página da Nike no YouTube postou um "teaser" da nova gravação de "Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)", de Jorge Ben Jor com Mano Brown. Mais uma semana e entrou no ar o "clipe oficial". Mais uma semana e o vídeo estava no "Fantástico". Brown já havia surgido na capa da "Rolling Stone" para anunciar sua reunião com Ben Jor e a multinacional. No crédito da campanha, ao longo do mês, "Realização Nike Sportswear". Com atraso de mais de duas décadas, marketing e indústria cultural se dobraram ao rap, afinal. Efeito da primeira Copa na África, em parte ao menos. Com os consumidores de Estados Unidos, Europa e Japão em refluxo pelos próximos anos, Nike e outras corporações refazem planos e buscam compradores nos brasileiros recém-chegados à classe média, nos chineses que acordaram para as greves, nos africanos de norte a sul. Quando a África do Sul perdeu para o Uruguai e iniciou a série de reveses de seleções do continente, as reações foram de condescendência por aqui. Se negros perdiam, outros marcavam e venciam, pelo Uruguai, Chile, até Suíça, era o que se ouvia. Se havia derrotados, eram os técnicos brancos que impunham retrancas às seleções africanas. Futebol não segue trama linear, a explicação de vitórias e derrotas é muitas vezes conflitante com o que se previa e prescrevia horas antes. Mas a pouca certeza que surgia, já então, em meio às derrotas africanas, era que a Copa do Mundo acontecia sem maiores reveses de organização. Com esforço, era possível questionar a qualidade de um gramado, a plateia sem lotação de um jogo; mas, como declarou com orgulho um sul-africano, sorrindo em uma TV brasileira, já eliminada sua seleção, a Copa calou quem não acreditava na África. Os EUA, que se esforçam agora por maior identificação com os emergentes, não mais os estagnados Japão e Europa, bem que tentaram abraçar o futebol nos últimos dias. Apesar da xenofobia dos porta-vozes da direita contra o esporte, de Glenn Beck a Dan Gainor, este falando até em "escurecimento da América", como denunciou o site Media Matters, a febre só foi até sábado. Com Clinton no estádio e Obama trocando agenda para ver o jogo, foi significativo que o fim do sonho americano ocorresse diante de Gana. E a cobertura que antes mostrava condescendência passou, de uma hora para outra, a listar louvores, dados positivos: de que a seleção ganense havia vencido o Mundial sub 20 e sido vice-campeã da África, de que até surgir Camarões, nos anos 80, foi o melhor futebol africano etc. Até o técnico branco conseguiu alguns elogios. E o ponta de lança Asamoah Gyan, da Puma, não da Nike, ganha ares de Umbabarauma. NELSON DE SÁ é colunista da Folha. Texto Anterior: Rio de Janeiro - Claudia Antunes: A Europa perdeu sua ideia Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES São Paulo merece a Copa Índice |
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