São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice CLAUDIA ANTUNES A Europa perdeu sua ideia RIO DE JANEIRO - Aos trancos e barrancos, as instituições mínimas do Estado de bem-estar na Europa sobreviveram ao thatcherismo, à exaltação do indivíduo contra o coletivo, à desregulamentação em todos os setores e ao aumento das disparidades de renda. Mas, se cidadãos europeus continuam indo às ruas para não perder essa conquista, indiferentes ao rótulo de parasitas, o discurso legitimador da social-democracia mal consegue se manter à tona no continente. É incrível que ele esteja mais morto do que vivo, após a crise que supostamente enterraria o apologia ao livre-mercadismo. O historiador britânico Tony Judt, acamado por doença neurológica, ditou seu último livro, "Ill Fares the Land" (algo como "O mal ronda a terra"), para contar aos jovens os porquês da social-democracia, depois de duas guerras provocadas em parte pelo fracasso do ultraliberalismo. Para Judt, a opção social-democrata foi o melhor antídoto contra o risco autoritário de direita e de esquerda nas democracias de massa ao mostrar não só que era possível conciliar liberdades civis e políticas com um patamar básico de igualdade mas também que este é que torna mais amplo o alcance da liberdade. Ele lamenta que a ética humanista e a lógica política contidas na ideia de justiça social tenham sido suplantadas pela visão tecnocrática de que a busca de uma suposta eficiência deve ser o objetivo último da alocação de recursos numa sociedade. Se fossem necessárias provas de que o conservadorismo ainda predomina nessa batalha ideológica, basta ver como o foco dos problemas europeus saiu das finanças desreguladas para os deficits orçamentários, mesmo que na maioria dos países tenham sido elevados pelo dinheiro usado para impedir o colapso provocado por jogadores destrambelhados. Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Política e humilhação Próximo Texto: Nelson de Sá: Umbabarauma Índice

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