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A fome do mundo
Brasil tem vitória ao conquistar chefia de entidade da ONU para a agricultura e deve fazer valer o seu tamanho nesse campo para tentar derrubar subsídios
A escolha do brasileiro José Graziano, 61, para o comando da FAO
(Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura)
acontece no momento em que o
preço dos alimentos se mantém
no patamar mais alto da história.
Fatores sazonais, como secas e
inundações, além da especulação
no mercado futuro, ajudaram a
elevar os preços. Mas a principal
força a encarecer o custo dos alimentos é estrutural e permanente.
Na medida em que melhoram
as condições de vida em países pobres e emergentes, a população
ganha mais acesso à comida e a
sua dieta também se diversifica.
Estudo da própria FAO projeta
que até 2050 a produção de comida terá de crescer 70% para alimentar os estimados 9 bilhões de
habitantes do planeta. É necessária, portanto, uma reforma do sistema agrícola global.
Até aqui, a entidade que Graziano assumirá em 2012, considerada
burocrática e dispendiosa por
muitos, fracassou nessa missão.
A FAO passa por uma reforma
estrutural para que se torne mais
eficiente. Mas, na direção contrária, seu orçamento anual encolheu em mais de 20% em 15 anos,
para cerca de US$ 1 bilhão. O histórico desfavorável pesou contra.
O Brasil tem uma experiência
bem-sucedida na área agrícola,
com décadas de incentivos à pesquisa que impulsionaram o aumento da produtividade e a formação de grandes grupos empresariais. O maior desafio agora é
acomodar as preocupações crescentes em relação ao ambiente.
A distorção mais perversa na
produção global de alimentos
vem dos subsídios dos países ricos. Esse apoio desleal à sua agricultura equivale a US$ 365 bilhões
ao ano e atinge em cheio as nações
mais pobres, que veem negado o
acesso de seus produtos aos maiores mercados consumidores.
A eleição de Graziano se deu
sem o apoio dos países desenvolvidos, chaves na remodelagem do
sistema mundial. Representa, porém, a primeira vitória da atabalhoada diplomacia petista em
busca de protagonismo, depois de
oito anos acumulando derrotas.
Auxiliar do ex-presidente Lula
desde a década de 1980, Graziano
comandou o malfadado Fome Zero. Principal vitrine do primeiro
ano de mandato, o programa fracassou após denúncias de uso político e porque trazia um diagnóstico ultrapassado acerca do perfil
da pobreza no Brasil. Acabou absorvido no Bolsa Família.
Agora, a tarefa de Graziano é semear o consenso e fazer valer o peso do Brasil na agricultura. O sucesso e a expertise do país em inovações no campo deveriam servir
como instrumento de pressão e
exemplo contra os subsídios das
nações ricas a seus agricultores.
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