São Paulo, terça-feira, 28 de junho de 2011

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A fome do mundo

Brasil tem vitória ao conquistar chefia de entidade da ONU para a agricultura e deve fazer valer o seu tamanho nesse campo para tentar derrubar subsídios

A escolha do brasileiro José Graziano, 61, para o comando da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) acontece no momento em que o preço dos alimentos se mantém no patamar mais alto da história.
Fatores sazonais, como secas e inundações, além da especulação no mercado futuro, ajudaram a elevar os preços. Mas a principal força a encarecer o custo dos alimentos é estrutural e permanente.
Na medida em que melhoram as condições de vida em países pobres e emergentes, a população ganha mais acesso à comida e a sua dieta também se diversifica.
Estudo da própria FAO projeta que até 2050 a produção de comida terá de crescer 70% para alimentar os estimados 9 bilhões de habitantes do planeta. É necessária, portanto, uma reforma do sistema agrícola global.
Até aqui, a entidade que Graziano assumirá em 2012, considerada burocrática e dispendiosa por muitos, fracassou nessa missão.
A FAO passa por uma reforma estrutural para que se torne mais eficiente. Mas, na direção contrária, seu orçamento anual encolheu em mais de 20% em 15 anos, para cerca de US$ 1 bilhão. O histórico desfavorável pesou contra.
O Brasil tem uma experiência bem-sucedida na área agrícola, com décadas de incentivos à pesquisa que impulsionaram o aumento da produtividade e a formação de grandes grupos empresariais. O maior desafio agora é acomodar as preocupações crescentes em relação ao ambiente.
A distorção mais perversa na produção global de alimentos vem dos subsídios dos países ricos. Esse apoio desleal à sua agricultura equivale a US$ 365 bilhões ao ano e atinge em cheio as nações mais pobres, que veem negado o acesso de seus produtos aos maiores mercados consumidores.
A eleição de Graziano se deu sem o apoio dos países desenvolvidos, chaves na remodelagem do sistema mundial. Representa, porém, a primeira vitória da atabalhoada diplomacia petista em busca de protagonismo, depois de oito anos acumulando derrotas.
Auxiliar do ex-presidente Lula desde a década de 1980, Graziano comandou o malfadado Fome Zero. Principal vitrine do primeiro ano de mandato, o programa fracassou após denúncias de uso político e porque trazia um diagnóstico ultrapassado acerca do perfil da pobreza no Brasil. Acabou absorvido no Bolsa Família.
Agora, a tarefa de Graziano é semear o consenso e fazer valer o peso do Brasil na agricultura. O sucesso e a expertise do país em inovações no campo deveriam servir como instrumento de pressão e exemplo contra os subsídios das nações ricas a seus agricultores.


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