São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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A CIMEIRA E O CRESCIMENTO

Têm parecido muito vagos e frustrantes os termos já delineados de acordos e declarações que serão firmados na cúpula entre América Latina e União Européia; entre os europeus e o Mercosul. Aponta-se o aparente descaso dos EUA com a reunião como sinal de que as negociações do Rio seriam pouco relevantes. O fato de a UE ter colocado poucas cartas na mesa da Cimeira, preferindo discutir a sério seus acintosos subsídios apenas na OMC, representaria mais um sinal de que as conversações tenderiam a ser infrutíferas.
Mas, como indicam reportagens de hoje desta Folha, a crítica da voracidade aberturista norte-americana ou da esperta avareza protecionista européia pode ser uma fachada para o vácuo de posições brasileiras na área comercial e do desenvolvimento.
O que parece pouco claro neste momento é que o Brasil já está entabulando as linhas principais das negociações bilaterais com a União Européia e, o que é grave, não sabe bem que contrapartidas oferecer. Quais setores o Brasil se dispõe a abrir? A proteger, de maneira competitiva?
Tais questões não podem ser respondidas sem que o país disponha de um projeto de desenvolvimento. Isto é, políticas de incremento industrial e tecnológico, sobre como atingir um volume de exportações e importações compatível com taxas de crescimento decentes e com a sustentabilidade do sempre instável balanço de pagamentos nacional. Hoje, há o forte risco de um impulso de crescimento ser abortado pelo desequilíbrio comercial, o que jogaria novamente o país na angústia de depender demais de empréstimos internacionais para fechar suas contas.
Não é pouco o que se começa a decidir com a cúpula do Rio de Janeiro. Mais uma vez o país está diante de opções que devem definir suas possibilidades de crescimento, o futuro e as chances de desenvolvimento autônomo. Nesta década, o país já errou duas vezes ao tomar decisões a respeito da inserção internacional de sua economia: foi passivo, precipitado, não tinha projeto. É mais que hora de ter amadurecido.


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