São Paulo, Segunda-feira, 28 de Junho de 1999
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O METRO DO DESEMPREGO


Economia e política sempre andam juntas. Quando a questão é o desemprego, as relações tornam-se explosivas. Isso explica os conflitos, não apenas acadêmicos, que há anos estão presentes até na construção de índices de desemprego no Brasil.
Há uma divergência conhecida e legítima entre as metodologias do IBGE (com definição mais restrita de desemprego) e da Fundação Seade (da Secretaria do Planejamento paulista), a qual, ao lado do Dieese, tem seu próprio indicador (e que define o problema de modo mais amplo).
Mas há interessados numa espécie de guerra metodológica entre os órgãos de pesquisa federal e estadual.
Talvez acreditem que, eliminando um índice, ajudem a enfrentar o problema do desemprego. A questão, aliás, já afeta a própria sucessão na Fundação Seade, que se arrasta sob pressões que opõem defensores e detratores do seu método de cálculo.
Não há um índice absolutamente melhor que outro. Eles apreendem aspectos distintos da mesma realidade. Mas é infantil, e perigoso politicamente, conspirar contra o indicador que mostra taxas mais altas (o índice paulista ronda os 20%). Ainda mais porque, ao longo dos anos, a pesquisa Seade-Dieese ganhou legitimidade e apoio dos sindicatos.
Aliás, o número de inscritos nas frentes de trabalho criadas pelo governo estadual (cerca de 461 mil pessoas) reflete bem os dados revelados pela pesquisa Seade-Dieese (nas condições exigidas para esse auxílio estão cerca de 580 mil pessoas).
Está em jogo também uma questão institucional. O federalismo ganha com a ampliação das bases locais de produção de conhecimento e, portanto, de formulação de políticas públicas bem dimensionadas.
A Fundação Seade descende em linha direta da Repartição de Estatística e Arquivo do Estado, criada em março de 1892. É um patrimônio cuja gestão, eminentemente técnica, não pode ser submetida à lógica clientelista com que, tradicionalmente, são leiloados cargos públicos no Brasil.


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