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Cooperativismo e justiça social
EDIVALDO DEL GRANDE
Como alternativa ao desemprego, cooperativas de produção vêm obtendo êxito em administrar empresas que haviam falido
APESAR DOS expressivos resultados que as cooperativas vêm
alcançando em pouco mais de
um século de atuação no Brasil, a imagem que a sociedade faz dos empreendimentos é bastante distorcida.
As cooperativas são vistas por muitos,
exclusivamente, como alternativa para parcelas carentes da sociedade
-catadores, costureiras ou artesãos-
se inserirem no mercado de trabalho.
Isso não deixa de ser uma realidade,
e podemos, inclusive, citar dezenas de
cooperativas que cumprem com sucesso esse objetivo. Mas cooperativismo é também um negócio que dá resultados econômicos efetivos, gera
emprego e renda em diversos setores
da economia.
Só em São Paulo, as cooperativas
agropecuárias movimentaram R$ 9,6
bilhões em 2005 -um terço dos resultados de toda a produção agropecuária do Estado. A cooperativa é o
melhor caminho para o homem do
campo ter acesso à tecnologia, crédito
e assistência especializada para competir com os grandes conglomerados
que integram o agribusiness.
Os dados impressionam e mostram
nossa força, porém, a atuação não se
restringe à agropecuária. Somamos 7
milhões de pessoas associadas aos
mais de 7.500 empreendimentos registrados na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). As cooperativas brasileiras empregam diretamente 200 mil pessoas, estão presentes em mais de 1.700 municípios e
movimentaram o equivalente a 6% do
PIB brasileiro em 2005.
O cooperativismo urbano tem assumido papel relevante na diminuição
da exclusão social e da concentração
de renda. Como alternativa ao desemprego, cooperativas de produção vêm
obtendo êxito em administrar empresas que haviam falido. As cooperativas de trabalho paulistas geram mais
de 100 mil postos de trabalho.
As cooperativas habitacionais de
São Paulo entregaram, a custo reduzido, mais de 80 mil unidades nos últimos anos. O movimento das cooperativas educacionais conta com 47 unidades em todo o Estado. São escolas
sem fins lucrativos, mantidas e dirigidas pelos pais associados.
O sistema de saúde cooperativo ultrapassa 13 milhões de usuários e está
disseminado por todo o país. Só a Unimed reúne 98 mil médicos. Se o sistema é bom para os médicos, também é
uma excelente alternativa para usuários, que contam com um serviço de
qualidade a preços menores.
As cooperativas de consumo eliminam intermediários e garantem gêneros mais baratos a milhares de famílias, servindo de referencial de preço
nos locais em que atuam. No crédito,
mais de 1.400 cooperativas emprestam dinheiro a juros de até 3% ao mês.
Como os empreendimentos não
têm finalidade de lucro, a renda obtida é dividida entre os cooperados, trazendo maior equilíbrio nas relações
sociais. Pesquisa do IBGE revelou que
o IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) é sempre maior em cidades
onde existem cooperativas.
Se os resultados são estimulantes e
os benefícios inegáveis, por que há
tanto desconhecimento e menos de
4% da população brasileira é associada a cooperativas? Por que nossos políticos teimam em investir em programas fadados ao fracasso quando o
cooperativismo se apresenta como
um modelo sustentável capaz de diminuir desigualdades?
Em todo o mundo, as cooperativas
recebem um tratamento diferenciado. Na China, o governo isentou só as
cooperativas de crédito do aumento
do compulsório imposto às instituições financeiras para tentar conter o
ritmo de crescimento do PIB. Na Europa, 45% da população participam
de alguma cooperativa. Nos EUA, esse
percentual chega a 35%.
Infelizmente, as imagens errôneas
sobre o movimento não residem só na
falta de cultura associativa do brasileiro. O problema envolve a ausência
de investimentos em educação e o
não-reconhecimento dos poderes públicos das particularidades do cooperativismo, o que tem resultado em
perseguição indiscriminada a esse tipo de empreendimento. Mesmo que
nossa Constituição contenha artigos
determinando apoio e incentivo, na
prática, pouco acontece.
As cooperativas brasileiras e de São
Paulo estão preparadas para ajudar
na retomada do crescimento econômico do país, seguindo a lógica da
cooperação em contraposição à prática devastadora do mercado. Só precisamos de um maior reconhecimento
para a nossa função de geração de
renda e de trabalho com justiça social.
EDIVALDO DEL GRANDE, 45, administrador de empresas
e especialista em cooperativismo, é presidente da Ocesp
(Organização das Cooperativas do Estado de S. Paulo).
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