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TENDÊNCIAS/DEBATES
O Brasil tem condições de sediar uma Olimpíada?
SIM
Sim, mas aprendendo com o Pan
WALTER DE MATTOS JUNIOR
POR TODAS as nossas potencialidades, o Brasil reúne condições
para realizar os Jogos Olímpicos. O Pan do Rio foi além do esperado, mas aquém do possível e do desejável. Às vésperas do evento, poucos
acreditavam no término das obras e
que o Pan transcorresse num nível
mínimo de qualidade. Pior, a maioria
temia um vexame. Felizmente, a dois
dias do final, graças à competência esportiva de consultores e da equipe do
Co-Rio, o pessimismo não se materializou. É verdade que o clima dos Jogos
não permeou a cidade e que nem tudo
foi perfeito, mas a avaliação geral é
bastante positiva.
A boa imprensa cumpriu seu papel,
aplicou olhar crítico antes, durante e
o fará depois dos Jogos, apontando falhas e eventuais irregularidades que
podem ser investigadas. Portanto,
não é o caso de usar este nobre espaço
para detalhar erros, normais e perfeitamente corrigíveis num próximo
evento. Vamos nos preocupar com o
que não foi feito, com o custo da oportunidade perdida.
Mesmo países muito ricos não podem se dar ao luxo de realizar um
evento esportivo como fim. Eles devem ser um veículo para inspirar e
tornar real um sonho grandioso e
transformador. Quando a chance
existe, não pode ser desperdiçada.
Assim foi Tóquio (64), que apresentou ao mundo a modernidade do pós-Guerra, Barcelona (92) e a recuperação do pós-franquismo. O mesmo
ocorreu em Seul (88) e Sydney (04),
pontas-de-lança da inserção global de
seus países. Os Jogos foram veículo
de realização da vontade coletiva, latente, que seus líderes souberam ler,
canalizar, datar e alavancar por meio
desse que é o evento de maior alcance
da humanidade.
Esse não foi o caso do Pan do Rio.
Mas é obrigatório que seja o dos Jogos
Olímpicos para o Brasil.
O projeto do Rio em 2002 continha
obras transformadoras, como o
Transpan, a despoluição das lagoas da
Barra, a linha 4 do metrô e a duplicação da estrada lagoa-Barra. Além disso, prometeu o alcaide Maia (nesta
semana prometeu de novo) investir
na formação de atletas. Lamentavelmente nada disso saiu do papel. Escalamos, sim, novos patamares esportivos, fruto de investimentos oriundos
das loterias, mas não houve efetiva alteração da realidade.
Precisamos converter o custo deste
Pan em aprendizado. E isso se traduz
em termos um sonho de transformação e uma forma de realizá-lo.
Os eixos inspiradores do projeto
dos Jogos Olímpicos devem ser o investimento maciço em educação e esporte para a juventude de todo o país
e a revitalização do Rio. Unir esporte
e educação é a saída mais promissora
para valorizar a escola como o caminho para a esperança e a conquista do
futuro e, ao mesmo tempo, economizar em saúde e segurança pública.
A outra frente seria igualmente virtuosa para o Brasil: uma mudança na
trajetória de declínio econômico e social do Rio é indispensável para um
país que ambiciona ser potência global e relevante pólo de turismo.
Não há projeto mais oportuno para
aglutinar idéias e pessoas competentes em torno de um plano consistente
para a cidade síntese do país (afastada
de sua função de capital e depois forçada à fusão pelos militares) e para
nossos jovens. A recuperação do Rio e
o investimento de qualidade na juventude do Brasil concretizará o propósito maior dos Jogos Olímpicos.
Não obstante, mesmo havendo um
projeto inspirador e conseqüente, há
que se chegar a um modelo indutor e
que tenha controle social. Para se realizarem Olimpíadas, os investimentos são de enorme expressão.
Isso,
por definição, subtrai recursos de outras prioridades nacionais. Então é
desaconselhável que todo esse processo seja conduzido de maneira hermética e por um pequeno grupo (no
caso do Pan, foi o COB e o prefeito Cesar Maia, até o "socorro" da União),
sem uma ativa governança que contenha representação da sociedade.
Ao COB cabe a liderança absoluta
em tudo o que for do campo esportivo. Aos governos, aplicar a boa prática
da gestão do público. A hora para praticar um novo arranjo institucional é
a da candidatura, definindo os investimentos, a maximização da participação privada e aplicando o conceito
de transparência absoluta.
Assim, a resposta para a pergunta é
um SIM convicto. A oportunidade é
extraordinária e não deve ser perdida.
WALTER DE MATTOS JUNIOR, 45, fundou e é editor do
diário "Lance!".
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