São Paulo, sábado, 28 de julho de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O Brasil tem condições de sediar uma Olimpíada?

SIM

Sim, mas aprendendo com o Pan

WALTER DE MATTOS JUNIOR

POR TODAS as nossas potencialidades, o Brasil reúne condições para realizar os Jogos Olímpicos. O Pan do Rio foi além do esperado, mas aquém do possível e do desejável. Às vésperas do evento, poucos acreditavam no término das obras e que o Pan transcorresse num nível mínimo de qualidade. Pior, a maioria temia um vexame. Felizmente, a dois dias do final, graças à competência esportiva de consultores e da equipe do Co-Rio, o pessimismo não se materializou. É verdade que o clima dos Jogos não permeou a cidade e que nem tudo foi perfeito, mas a avaliação geral é bastante positiva.
A boa imprensa cumpriu seu papel, aplicou olhar crítico antes, durante e o fará depois dos Jogos, apontando falhas e eventuais irregularidades que podem ser investigadas. Portanto, não é o caso de usar este nobre espaço para detalhar erros, normais e perfeitamente corrigíveis num próximo evento. Vamos nos preocupar com o que não foi feito, com o custo da oportunidade perdida. Mesmo países muito ricos não podem se dar ao luxo de realizar um evento esportivo como fim. Eles devem ser um veículo para inspirar e tornar real um sonho grandioso e transformador. Quando a chance existe, não pode ser desperdiçada.
Assim foi Tóquio (64), que apresentou ao mundo a modernidade do pós-Guerra, Barcelona (92) e a recuperação do pós-franquismo. O mesmo ocorreu em Seul (88) e Sydney (04), pontas-de-lança da inserção global de seus países. Os Jogos foram veículo de realização da vontade coletiva, latente, que seus líderes souberam ler, canalizar, datar e alavancar por meio desse que é o evento de maior alcance da humanidade. Esse não foi o caso do Pan do Rio.
Mas é obrigatório que seja o dos Jogos Olímpicos para o Brasil. O projeto do Rio em 2002 continha obras transformadoras, como o Transpan, a despoluição das lagoas da Barra, a linha 4 do metrô e a duplicação da estrada lagoa-Barra. Além disso, prometeu o alcaide Maia (nesta semana prometeu de novo) investir na formação de atletas. Lamentavelmente nada disso saiu do papel. Escalamos, sim, novos patamares esportivos, fruto de investimentos oriundos das loterias, mas não houve efetiva alteração da realidade.
Precisamos converter o custo deste Pan em aprendizado. E isso se traduz em termos um sonho de transformação e uma forma de realizá-lo. Os eixos inspiradores do projeto dos Jogos Olímpicos devem ser o investimento maciço em educação e esporte para a juventude de todo o país e a revitalização do Rio. Unir esporte e educação é a saída mais promissora para valorizar a escola como o caminho para a esperança e a conquista do futuro e, ao mesmo tempo, economizar em saúde e segurança pública.
A outra frente seria igualmente virtuosa para o Brasil: uma mudança na trajetória de declínio econômico e social do Rio é indispensável para um país que ambiciona ser potência global e relevante pólo de turismo. Não há projeto mais oportuno para aglutinar idéias e pessoas competentes em torno de um plano consistente para a cidade síntese do país (afastada de sua função de capital e depois forçada à fusão pelos militares) e para nossos jovens. A recuperação do Rio e o investimento de qualidade na juventude do Brasil concretizará o propósito maior dos Jogos Olímpicos. Não obstante, mesmo havendo um projeto inspirador e conseqüente, há que se chegar a um modelo indutor e que tenha controle social. Para se realizarem Olimpíadas, os investimentos são de enorme expressão.
Isso, por definição, subtrai recursos de outras prioridades nacionais. Então é desaconselhável que todo esse processo seja conduzido de maneira hermética e por um pequeno grupo (no caso do Pan, foi o COB e o prefeito Cesar Maia, até o "socorro" da União), sem uma ativa governança que contenha representação da sociedade.
Ao COB cabe a liderança absoluta em tudo o que for do campo esportivo. Aos governos, aplicar a boa prática da gestão do público. A hora para praticar um novo arranjo institucional é a da candidatura, definindo os investimentos, a maximização da participação privada e aplicando o conceito de transparência absoluta. Assim, a resposta para a pergunta é um SIM convicto. A oportunidade é extraordinária e não deve ser perdida.


WALTER DE MATTOS JUNIOR, 45, fundou e é editor do diário "Lance!".


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