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Muitas concessões
Novo acordo sobre Itaipu pode gerar mais custos para o consumidor e provocar insegurança no planejamento energético
O PARAGUAI tem mais a
comemorar do que o
Brasil com o acordo assinado pelos presidentes dos dois países no último sábado, em Assunção, que revê
cláusulas do Tratado de Itaipu.
Pelo acordo de 1973, Brasil e
Paraguai têm direito a 50% da
energia produzida. Se uma das
partes não consumir toda sua cota, vende o excedente ao parceiro. É o que ocorre atualmente.
O vizinho, que só consome 5%
da energia gerada, vende o restante à Eletrobrás. A maior parte
desse valor se destina a quitar
empréstimos contraídos para a
construção da usina -mas o Brasil também paga uma compensação de US$ 120 milhões por ano.
O governo paraguaio passou
recentemente a pleitear um aumento dos valores e a liberdade
de vender energia para outros
países. O governo Lula cedeu
parcialmente. Vai permitir que o
Paraguai ofereça sua cota no
mercado livre de energia do Brasil sem a intermediação da Eletrobrás. E, a partir de 2023, abre-se a possibilidade de que a venda
seja liberada aos outros países. O
governo brasileiro também vai
triplicar o valor da compensação,
para US$ 360 milhões anuais.
Além desses benefícios, o Brasil concordou que seja construída sem custo para o parceiro
uma linha de transmissão a fim
de levar a energia de Itaipu até
Assunção. Essa obra, estimada
em US$ 450 milhões, seria financiada basicamente pelo BNDES.
As concessões brasileiras suscitam incertezas. Como se contrapõem a princípios estabelecidos no tratado de 1973, o governo
brasileiro exigiu que o novo acordo fosse ratificado pelos Congressos dos dois países.
Além de contestar a revisão do
acordo, o Congresso poderá exigir que Assunção ceda em questões que o governo paraguaio resiste a tratar -como a regularização da situação dos chamados
brasiguaios naquele país.
Outro problema é o custo da
revisão. O governo nega que haverá alta no preço de energia.
Mas, seja pelo acréscimo na conta dos consumidores, seja pela
complementação dos recursos
pelo Tesouro, o custo recairá sobre o contribuinte brasileiro.
A venda ao mercado livre, ainda que sua implementação seja
gradual, traz insegurança energética, já que pode alterar os preços futuros e afetar o equilíbrio
econômico-financeiro de grandes usinas em construção ou
planejamento.
Para o presidente paraguaio,
Fernando Lugo, a revisão era
fundamental. Ele foi eleito em
2008 com um discurso populista, de viés antibrasileiro, que trazia a promessa de conquistar a
"soberania energética" para o
Paraguai. Tinha pressa, já que no
dia 15 fará um ano de posse, e sua
popularidade cai.
É compreensível que o Brasil,
com economia mais forte e papel
de liderança na região, seja sensível a demandas de seus vizinhos.
Mas deve haver limites para essa
diplomacia da generosidade com
governos que adotam discurso
antibrasileiro -e não é demais
lembrar que o Paraguai se recusou a incluir no novo acordo o
apoio às pretensões brasileiras
de ter assento permanente no
Conselho de Segurança da ONU.
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