São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2010

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Prova financeira

Resultado satisfatório do "teste de estresse" a que foram submetidos bancos europeus contribui para aliviar cenário internacional

Desde que cresceram os temores acerca da insolvência fiscal de alguns países do bloco, a União Europeia tem trabalhado para reparar falhas institucionais que contribuem para enfraquecer a moeda única. Uma delas é a inexistência de um mecanismo de transferências fiscais entre países para reduzir os impactos da recessão e do desemprego nas economias mais fragilizadas.
Como um orçamento federativo não é viável em termos políticos, a saída emergencial foi criar um fundo de estabilização de € 500 bilhões, que pode ser utilizado pelos países-membros sob certas condições. Foi um primeiro passo para assegurar a credibilidade do euro.
Outro, também importante, foi dado na semana passada, com a publicação dos resultados do chamado "teste de estresse" aplicado pela UE em seus bancos.
O objetivo do teste era aumentar a transparência e verificar se as instituições financeiras teriam capital suficiente para fazer frente a perdas significativas de crédito, em especial em países com problemas de excesso de alavancagem financeira, como a Espanha.
O exercício "estressou" os balanços patrimoniais de 91 bancos, responsáveis por 65% dos ativos bancários da região. Para fazer o "stress test", a autoridade regulatória europeia simulou situações recessivas para 2010 e 2011, projetando acentuada queda de preços de imóveis e de outros ativos financeiros. Além disso, estimou perdas com empréstimos a governos -embora neste caso os cenários e a abrangência do teste tenham sido considerados tímidos por muitos analistas.
O resultado da prova pode ser considerado satisfatório. O principal foco de preocupação, a Espanha, foi o país para o qual as autoridades do bloco criaram situações mais extremas. Foram consideradas quedas de preços de imóveis de até 50%, por exemplo. Mesmo assim, a necessidade de capital do sistema bancário se revelou reduzida, levando-se em conta os aportes de fundos públicos já realizados e as fusões de bancos que estão em andamento.
No geral, a carência de recursos identificada foi de 3,5 bilhões -muito aquém do que alguns economistas esperavam. Exercícios ainda mais conservadores realizados pelo setor privado acusaram falta de capital inferior a 100 bilhões, valor modesto em relação à economia europeia, cujo PIB gira em torno de € 12 trilhões.
Além da boa notícia da UE, outros avanços recentes se verificaram no plano internacional. Nos EUA, o presidente Barack Obama sancionou a reforma financeira, pondo fim a um longo período de indefinição. E, no âmbito multilateral, o Comitê da Basileia chegou nesta semana a um acordo básico sobre os critérios de capital e liquidez a serem utilizados pelos bancos globais, depois de meses de negociação.
Em ambos os casos, chegou-se a uma espécie de meio-termo entre a difícil tarefa de aumentar a exigência de capital dos bancos para reduzir o risco de crise e, ao mesmo tempo, evitar que regras agressivas demais comprometessem a recuperação econômica.


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