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Editoriais
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Ler sem entender
A notícia de que 23,5% dos
acompanhantes de pacientes do
Hospital das Clínicas de São Paulo
que declararam saber ler e escrever são incapazes de compreender
instruções simples relativas ao
uso de um medicamento preocupa, mas não chega a surpreender.
Foi justamente a constatação de
que a alfabetização formal significa muito pouco para a vida prática
que levou a Unesco a criar e depois reformular o conceito de
analfabetismo funcional.
Desde 1978, o braço da ONU para a educação considera funcionalmente alfabetizado o indivíduo inserido de forma adequada
em seu meio e que é capaz de desempenhar tarefas em que a leitura, a escrita e o cálculo são usados
para o seu próprio desenvolvimento e o de sua comunidade.
No papel faz sentido, mas computar esse tipo de situação, especialmente em censos, não é trivial.
A solução encontrada foi utilizar
substitutos mais objetivos, como
os anos de instrução formal. É
uma aproximação grosseira, mas
que tende a funcionar com grandes populações.
O IBGE, por exemplo, considera
analfabetos funcionais os brasileiros maiores de 15 anos que tenham menos de quatro anos de estudo. Por esse critério, nosso índice chega a 21%.
O problema surge quando se
utilizam esses números em comparações com outros países. Como
a definição de alfabetismo funcional pressupõe a boa integração da
pessoa a seu meio e esta varia de
acordo com nacionalidade, classe
social etc., não se estabeleceu nenhum critério uniforme. O Canadá, por exemplo, só considera
funcionalmente alfabetizado
quem tenha mais de nove anos de
escolaridade.
Mais do que isso, as nações desenvolvidas já começam a substituir a noção de alfabetismo funcional pelo desempenho de amostras da população em provas que
avaliam as habilidades em áreas
específicas e comportam gradações. Nessas condições, 48% da
população do Canadá estaria em
nível de conhecimento abaixo do
adequado. Essas considerações
dão bem a medida do fosso que o
Brasil ainda precisa transpor.
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