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CLÓVIS ROSSI
Avacalhação
SÃO PAULO - O horário gratuito eleitoral é, em tese, uma formidável contribuição para a democracia: o poder
público, ainda que indiretamente,
abre espaço para que todos os candidatos dialoguem com o eleitor -claro que na proporção da representatividade de seus partidos em pleitos
anteriores.
Pena que outras regras e os maus
costumes políticos brasileiros tenham
transformado o horário gratuito, ou
ao menos parte dele, num circo de
horrores que só pode fazer mal à própria política.
Não vi ainda, por motivo de viagens, o horário dos candidatos à Presidência. Mas o que vi anteontem, no
período reservado aos candidatos ao
pleito paulista, é de chorar. Há absurdos de todo o calibre e em todos os
partidos. A começar do fato de que
vários deles tornaram-se feudos de
um dado cacique. Até o PMDB, partido grande e tradicional, não passa,
no Estado, de braço eletrônico para a
tentativa de reabilitação eleitoral de
Orestes Quércia.
Quércia tem todo o direito de querer reabilitar-se. Mas está passando
de todos os limites -de que dá prova, de resto, a renúncia de Fernando
Morais à candidatura exatamente
para não ser "humilhado", como ele
disse, pelas rolo compressor imposto
pelo ex-governador.
Fosse só isso, ainda seria passável
para estômagos menos sensíveis. Mas
há um desfile de asneiras, ditas em
especial pelos candidatos dos partidos chamados "nanicos" que supera
todos os limites.
Não é novidade, eu sei. Mas era de
esperar que, com a prática contínua e
repetida de eleições, a espécie dos
animais políticos evoluiria e o vexame seria atenuado. Que nada.
Qualquer criança que veja o programa gratuito haverá de perguntar
ao pai: "Como eu faço para não me
transformar futuramente num deles?". É a melhor contribuição que
um mecanismo teoricamente democrático pode dar para avacalhar a já
avacalhada atividade política.
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