São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2004

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Saúde e bem comum

Nosso povo precisa ser mais bem atendido para conservar e para recuperar sua saúde. Estão entre as graves deficiências de nosso país a situação de desnutrição e as doenças.
Há indicadores que chamam a atenção para a urgência de um esforço conjunto do governo e das forças vivas da sociedade para garantir a saúde especialmente dos milhões de empobrecidos.
A constatação mais chocante é a da fome e a insuficiente alimentação que atinge, de modo quase insanável, as crianças nos primeiros anos de vida, acarretando deficiências físicas e mentais e a mortalidade infantil. À desnutrição somam-se a falta de saneamento básico e de tratamento da água.
O atendimento às doenças e acidentes é muito precário, particularmente nas cidades do interior, onde faltam os serviços de alta complexidade, o que obriga os pacientes a longos percursos em ambulância para alcançarem hospitais com UTI e tratamento especializado. Ontem mesmo, de madrugada, voltava de Belo Horizonte para Mariana uma senhora idosa que viajou durante horas a fim de conseguir uma vaga que lhe permitisse a tomografia e a internação para salvar a vida. Os remédios são caros e nem sempre a receita é adequada.
Esses fatos são conhecidos, e precisamos reconhecer que tem havido esforços louváveis para enfrentar os desafios da saúde do povo. Cresceu o empenho para prevenir as doenças infantis com postos de saúde, vacinação, creches e casas de acolhida para portadores de deficiência. É notável o trabalho em âmbito nacional da Pastoral da Criança, que, em poucos anos, implantou um sistema dos mais eficientes do mundo em defesa e em promoção da saúde e da educação da criança, desde o ventre materno até os seis anos de idade, envolvendo a família e a comunidade. Um verdadeiro exército de líderes comunitários conseguiu frear a mortalidade infantil e salvar milhões de vida.
O sistema hospitalar ainda é insuficiente. Há, sem dúvida, empenho do governo e idealismo da parte de médicos e enfermeiros, no entanto faltam hospitais nas áreas de maior densidade de população pobre, tanto nas capitais como no interior. Médicos sentem-se limitados, sem instrumentos e sem remédios necessários. Prolonga-se muito a espera para exames e cirurgias pelo SUS. O conjunto dos serviços mantido pelo SUS não alcançou ainda a retribuição justa, multiplicando o recurso a pagamento direto ao médico, onerando demais as famílias pobres.
O momento político de eleições municipais é promissor, pois abre perspectivas para melhor programação e financiamento dos serviços de saúde, seja na medicina preventiva, seja no sistema de internação hospitalar.
O dever de todo cidadão em vista do bem comum requer, como exigência básica, a promoção da saúde, a começar da elaboração de lei orgânica que garanta a nutrição do povo.
Os cristãos, a exemplo de Jesus Cristo, devem empenhar-se ainda mais para assegurar aos enfermos o serviço inspirado pelo amor fraterno.
Esse compromisso evangélico obriga-nos, além da solicitude individual pelo doente, ao zelo pelas leis e políticas públicas que promovam a vida e a saúde do povo.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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