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GABRIELA WOLTHERS
Mais eficiência, menos charme
RIO DE JANEIRO - A rapidez com que as evoluções tecnológicas invadem o
nosso dia-a-dia é tão alucinante que
pouco nos damos conta da mudança
que elas acarretam no nosso modo de
agir. Mais do que isso, como essa mudança influencia as relações econômicas e pessoais.
Lembro bem quando fui apresentada à internet, por volta de 95. Estava
em Brasília quando um amigo abriu
um laptop, conectou-o ao telefone e
começou a baixar uma página de
uma universidade americana. Demorou mais de uma hora para algumas ilustrações aparecerem na tela.
Ele estava empolgadíssimo. Eu achei
uma chatice muito das lerdas.
Menos de dez anos depois, faz-se
tudo pela internet. Se antes era necessário percorrer lojas para fazer uma
pesquisa de preços na hora de comprar uma geladeira, hoje é possível levantar quanto custa qualquer eletrodoméstico em qualquer ponto da cidade -ou do país- em poucos minutos. Não só saber o preço, mas
comprar o próprio produto. Com entrega em casa, logicamente.
Se isso trouxe comodidade, vai acabando pouco a pouco a fidelidade do
consumidor. Quando montei meu
primeiro apartamento, em 92, fiz
uma pesquisa aqui ou lá, mas, por
falta de tempo e por insistência de
um bom vendedor, comprei grande
parte dos eletrodomésticos na mesma
rede, que, sinal dos tempos, nem existe mais. Quando troquei a maioria
deles, em 2002, a internet foi decisiva
-cada um foi comprado numa loja.
É lógico que o consumidor sai ganhando nas buscas rápidas de ofertas. Mas não se pode negar que a tecnologia fez com que tudo se resumisse a preços. Não interessa mais o
atendimento, não se conversa mais,
não há mais o convencimento do
vendedor, que ficava refazendo contas na sua frente para dar um bom
desconto.
A internet é apenas um exemplo de
como o mundo, moldado pela visão
norte-americana da eficiência a
qualquer preço, vai perdendo a capacidade de convivência entre as pessoas. Nada mais importa a não ser os
custos. Pode ser mais rentável, mas é
muito menos charmoso.
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