São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Na calçada
"Que os adversários da prefeita de São Paulo se ocupem do fato de o carro dela ter feito uma manobra proibida pela legislação do trânsito para criticá-la no programa eleitoral até pode ser tolerado. Afinal, a campanha eleitoral é tão fraca e os candidatos têm tão poucos assuntos relevantes que temas assim "importantes" merecem mesmo a atenção de quem assiste à propaganda "gratuita". Mas a Folha ocupar quase 25% de sua Primeira Página e outro tanto na pág. A5 na edição de 26/8 para tratar do assunto é, no mínimo, um desrespeito ao leitor, que, acostumado que está às barbaridades que são cometidas no trânsito de São Paulo, não tem tempo a perder com algo absolutamente irrelevante."
José Claudio Curioni (São Paulo, SP)

 

"Ser prefeito deve ser muito bom, e nossa atual prefeita deve ter percebido, pois agora "não quer largar o osso", como se diz popularmente. Vejamos alguns exemplos. Prefeito não perde emprego por chegar atrasado por culpa das obras que mudam diariamente o trânsito e a geografia da cidade. Prefeito não paga a manutenção da sua frota de carros cada vez que cai nos buracos, amassando e desalinhando as rodas e estourando a suspensão. Prefeito não precisa redobrar a atenção ao dirigir para não levar multas injustas e depois não ter como reclamar. Prefeito não precisa andar de "Passa-Raiva" nos corredores que mudam todos os dias os trajetos dos ônibus. Prefeito só precisa usar roupas de duas cores -branco e vermelho- para fazer propaganda de seu partido. Enfim, se todos tivéssemos os privilégios dos prefeitos, São Paulo seria um paraíso em qualidade de vida."
Liana Obata (São Paulo, SP)

Chacina
"A propósito da chacina de moradores de rua ocorrida recentemente em São Paulo, vem a pêlo a questão da federalização dos crimes contra a humanidade. Não se podendo descartar a hipótese do envolvimento de pessoas pertencentes a órgãos públicos, como vem acontecendo em inúmeros episódios que têm contado com a participação de policiais e até mesmo de autoridades governamentais -como, entre outras, podem ser citadas as eliminações no pedágio da Castelinho, as intervenções do Grupo de Repressão e Análise aos Delitos de Intolerância (Gradi), de que resultou a morte de inúmeras pessoas, as atuações de grupos de extermínio em Guarulhos, em Ribeirão Preto e em São Paulo, eliminando aqueles que foram excluídos do convívio social-, é da maior urgência que o projeto de lei sobre a matéria seja aprovado pelo Congresso no próximo "esforço concentrado" para que esses crimes não fiquem impunes. Mas, enquanto isso não acontece, seria de todo aconselhável que, neste último fato, que ensangüentou as calçadas do centro de São Paulo, a Polícia Federal assumisse o comando das investigações a fim de que não restassem dúvidas quanto à legitimidade das conclusões que se espera que sejam adotadas."

Hélio Bicudo, vice-prefeito de São Paulo, presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos (São Paulo, SP)

 

"A forma mais forte de solidariedade é compartilhar, ainda que de maneira alegórica, da sorte daqueles que queremos apoiar, ou seja, passar fome com os famintos ou frio com os desabrigados, mesmo que por um dia. Numa época em que o hedonismo e a busca do prazer pessoal chegam ao paroxismo, essa atitude, além de ser uma manifestação de apoio solidário aos que sofrem, é um chamamento aos cidadãos de boa vontade - maioria absoluta da população, mas maioria desarticulada, inconsciente de sua força e da possibilidade real de seu papel transformador. Assim, quero inscrever-me no movimento proposto por Contardo Calligaris em seu memorável artigo de 26/8 ("Quem tem medo dos moradores de rua?", Ilustrada)."
Cláudio José dos Santos, diretor da Faculdade de Direito da Unimes (São Vicente, SP)

Cinema
"O ministro Gilberto Gil tem razão em rejeitar a pecha de autoritário em relação ao projeto de lei de criação da Ancinav. Diante da chuva de críticas que o projeto recebeu, fui lê-lo com cuidado. Não há nenhuma autorização para que o governo interfira no conteúdo das obras cinematográficas de audiovisuais. A liberdade dos autores está plenamente assegurada. Há apenas a possibilidade de o governo exigir que o "conteúdo" seja nacional. Entende-se no projeto de lei por conteúdo tudo o que os veículos de mídia audiovisual transmitem. O que o projeto pretende é, muito legitimamente, defender a produção cultural nacional. Poderá certamente ser aperfeiçoado no Congresso, mas é, sem dúvida, um avanço."
Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (São Paulo, SP)

Medo e prazer
"A intenção do motorista que jogou o carro em cima de Eliane Cantanhêde ("O cúmulo da covardia", Opinião, pág. A2, 27/8) era provocar medo e sentir o prazer de ver a vítima aterrorizada. Quando perguntou se ela queria morrer, foi para mostrar que ele poderia matá-la. Aquela rua pertence ao seu carro e, como num videogame, todos os objetos estranhos devem ser aniquilados. Eliminar o intruso é a palavra de ordem. O cérebro dos eliminadores não se comunica mais com a sua consciência. Eliane, ao pisar na rua, agrediu a mente doentia do motorista -da mesma forma como os mendigos que foram mortos a pauladas sujavam as calçadas dos pedestres incomodados. Nos dias de hoje, desde cedo, convivemos com a idéia de que a nossa felicidade depende da eliminação do próximo. Se os que ainda estão lúcidos não conseguirem mudar esse estado de demência e covardia de muitos, a morte súbita dos que nos incomodam passará a ser uma regra aceita pela sociedade."
Wilson Gordon Parker (Nova Friburgo, RJ)

Anhangabaú
"O texto "Superstição estigmatiza lugares assombrados" (Cotidiano, pág. C4, 13/8) informou que "vale do Anhangabaú", em tupi-guarani, quer dizer "várzea dos maus espíritos". Gostaria de dizer que não existe uma língua denominada "tupi-guarani". Tupi-guarani é um tronco lingüístico que compreende várias línguas -eventualmente muito distintas. O topônimo citado pela reportagem (Anhangabaú) vem da língua tupi, que faz parte da família lingüística tupi-guarani."
Carlos Eduardo de Oliveira, graduando em lingüística e língua portuguesa pela FFLCH da USP (São Paulo, SP)

Nota da Redação - Leia abaixo a seção "Erramos".


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