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JOSÉ SARNEY
Sempre as mulheres
BUSH , sem outra justificativa
para o atoleiro em que se meteu no Iraque e no Afeganistão, levantou a tese de que era em
nome da democracia que ele fazia a
guerra. A tese das armas de destruição em massa não pegou.
Os Estados Unidos tinham que
promover eleições nesses países
para democratizá-los. O resultado
é que, no Iraque, criou e está consolidando um Estado teocrático,
em que grande parte dos políticos é
do tempo de Saddam. E o terrorismo toma uma dimensão alarmante, com atentados diários entre xiitas, sunitas, curdos e católicos (vítimas). O tal exército iraquiano que
eles treinaram é incapaz de manter
qualquer ordem, e o compromisso
de Obama de retirar as tropas americanas em 2010 se aproxima.
No Afeganistão, o drama é maior.
As eleições que foram realizadas tiveram um comparecimento abaixo
de 50%, e a mobilização militar foi
muito grande, ocupando todas as
zonas eleitorais, onde a população,
com medo de atentados, não compareceu. Os "talebans" estão voltando, com tanta ousadia que chegaram a explodir um caminhão em
frente ao comando americano em
Cabul, matando civis e soldados
americanos. Só neste ano, os Estados Unidos já perderam mais de
200 soldados. A população mergulhada na miséria e na fome, com 30
anos de guerra, já tem saudade dos
"talebans". E o pior de tudo: o
avanço democrático em relação às
mulheres foi nenhum. Elas vivem
a mesma opressão, sem direitos
nem liberdade, como no tempo do
Taleban.
Li num jornal europeu a declaração de Fatana Ishaq Gailani, uma
lutadora afegã que ganhou o prêmio espanhol Príncipe de Astúrias,
de que, se as mulheres não têm direitos, não existe democracia. Metade da população, a feminina, vive
debaixo da prisão da burca ou obrigada a usar o "hiyab" sobre a cabeça, exigência da religião.
A eleição foi uma vergonha. Ainda não terminou a apuração e todos os candidatos dizem que foi
fraudada. Karzai, para ganhar popularidade, aceitou a volta de um
dos maiores "senhores da guerra",
Abdul Rashid Dostum, o inverso de
tudo o que prometera, com o sistema que sempre existiu lá, responsável pela insegurança e matança
constante entre tribos.
Outra medida que tomou foi votar uma lei apertando mais as mulheres e agradando os homens,
dando a estes o direito de suspender a alimentação das mulheres se
estas negassem o famoso "tamkeem", a satisfação sexual. Oitenta
e cinco por cento das mulheres são
analfabetas, não têm direito de escolha e se casam entre os 12 e os 15
anos, com quem o pai escolher.
Pensar em democratizar o
Oriente Médio é o mesmo que
plantar cenoura na Lua. As mulheres são escravas delas mesmas, pois
não têm o menor direito de viver
em liberdade.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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