São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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JOSÉ SARNEY

Sempre as mulheres

BUSH , sem outra justificativa para o atoleiro em que se meteu no Iraque e no Afeganistão, levantou a tese de que era em nome da democracia que ele fazia a guerra. A tese das armas de destruição em massa não pegou.
Os Estados Unidos tinham que promover eleições nesses países para democratizá-los. O resultado é que, no Iraque, criou e está consolidando um Estado teocrático, em que grande parte dos políticos é do tempo de Saddam. E o terrorismo toma uma dimensão alarmante, com atentados diários entre xiitas, sunitas, curdos e católicos (vítimas). O tal exército iraquiano que eles treinaram é incapaz de manter qualquer ordem, e o compromisso de Obama de retirar as tropas americanas em 2010 se aproxima.
No Afeganistão, o drama é maior. As eleições que foram realizadas tiveram um comparecimento abaixo de 50%, e a mobilização militar foi muito grande, ocupando todas as zonas eleitorais, onde a população, com medo de atentados, não compareceu. Os "talebans" estão voltando, com tanta ousadia que chegaram a explodir um caminhão em frente ao comando americano em Cabul, matando civis e soldados americanos. Só neste ano, os Estados Unidos já perderam mais de 200 soldados. A população mergulhada na miséria e na fome, com 30 anos de guerra, já tem saudade dos "talebans". E o pior de tudo: o avanço democrático em relação às mulheres foi nenhum. Elas vivem a mesma opressão, sem direitos nem liberdade, como no tempo do Taleban.
Li num jornal europeu a declaração de Fatana Ishaq Gailani, uma lutadora afegã que ganhou o prêmio espanhol Príncipe de Astúrias, de que, se as mulheres não têm direitos, não existe democracia. Metade da população, a feminina, vive debaixo da prisão da burca ou obrigada a usar o "hiyab" sobre a cabeça, exigência da religião.
A eleição foi uma vergonha. Ainda não terminou a apuração e todos os candidatos dizem que foi fraudada. Karzai, para ganhar popularidade, aceitou a volta de um dos maiores "senhores da guerra", Abdul Rashid Dostum, o inverso de tudo o que prometera, com o sistema que sempre existiu lá, responsável pela insegurança e matança constante entre tribos.
Outra medida que tomou foi votar uma lei apertando mais as mulheres e agradando os homens, dando a estes o direito de suspender a alimentação das mulheres se estas negassem o famoso "tamkeem", a satisfação sexual. Oitenta e cinco por cento das mulheres são analfabetas, não têm direito de escolha e se casam entre os 12 e os 15 anos, com quem o pai escolher.
Pensar em democratizar o Oriente Médio é o mesmo que plantar cenoura na Lua. As mulheres são escravas delas mesmas, pois não têm o menor direito de viver em liberdade.

jose-sarney@uol.com.br


JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.



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