São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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A CPI VAI AO NARCOTRÁFICO

Nos últimos anos, procuradores e promotores da região Norte vinham observando, com certo desalento, o descaso com que eram tratados, mesmo na Procuradoria Geral da República, seus alertas a respeito de muitos indícios de que o narcotráfico estaria a se infiltrar em órgãos locais do Estado. Isso quando não reclamavam atenção para o fato de que eram vítimas de ameaças físicas.
Sabe-se que as fronteiras do Brasil, em especial as do Centro-Oeste e do Norte, são região quase franca para a passagem de drogas. Pobreza de meios, territórios inóspitos, miríades de rios e espaço aéreo livre de controle fazem com que o policiamento seja de fato difícil. Mas os promotores de Justiça vêm alertando que a droga parece não apenas trafegar por essas regiões, mas nelas instala seus negócios e alicia homens públicos.
Cada vez mais surgem denúncias que ligam deputados, juízes e governantes ao crime organizado no Acre e no Amazonas. Graças ao trabalho de uma CPI, começa a se entrever algo mais sobre o nível de comprometimento das instituições nesses Estados. Na semana que vem, a Comissão Parlamentar de Inquérito que trata do narcotráfico deve se instalar por alguns dias no Acre. O objetivo, a princípio, é reunir documentos e provas para encaminhar dezenas de processos. Mas o essencial é que se pretende dar visibilidade a casos que vêm sendo tratados como apenas exemplos isolados ou folclóricos do atraso de certas regiões.
É aterradora a hipótese de que o narcotráfico tenha ultrapassado as fronteiras do Brasil; que possa não apenas estar se fixando em território nacional, mas que eventualmente entremeie o aparelho de Estado.
O Brasil corre o grave risco, já realidade em alguns de seus vizinhos, de acordar tarde demais para a ameaça de ter suas instituições infectadas pelo tráfico. O crime organizado deve, pois, se tornar prioridade de governo, a exemplo do que já vem fazendo o Congresso. A mínima leniência com o tráfico de drogas é intolerável. Mas, quando o crime ronda a máquina do Estado, a tolerância revolta.


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