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A CPI VAI AO NARCOTRÁFICO
Nos últimos anos, procuradores e
promotores da região Norte vinham
observando, com certo desalento, o
descaso com que eram tratados,
mesmo na Procuradoria Geral da República, seus alertas a respeito de
muitos indícios de que o narcotráfico
estaria a se infiltrar em órgãos locais
do Estado. Isso quando não reclamavam atenção para o fato de que eram
vítimas de ameaças físicas.
Sabe-se que as fronteiras do Brasil,
em especial as do Centro-Oeste e do
Norte, são região quase franca para a
passagem de drogas. Pobreza de
meios, territórios inóspitos, miríades
de rios e espaço aéreo livre de controle fazem com que o policiamento seja
de fato difícil. Mas os promotores de
Justiça vêm alertando que a droga parece não apenas trafegar por essas regiões, mas nelas instala seus negócios e alicia homens públicos.
Cada vez mais surgem denúncias
que ligam deputados, juízes e governantes ao crime organizado no Acre e
no Amazonas. Graças ao trabalho de
uma CPI, começa a se entrever algo
mais sobre o nível de comprometimento das instituições nesses Estados. Na semana que vem, a Comissão Parlamentar de Inquérito que trata do narcotráfico deve se instalar por
alguns dias no Acre. O objetivo, a
princípio, é reunir documentos e
provas para encaminhar dezenas de
processos. Mas o essencial é que se
pretende dar visibilidade a casos que
vêm sendo tratados como apenas
exemplos isolados ou folclóricos do
atraso de certas regiões.
É aterradora a hipótese de que o
narcotráfico tenha ultrapassado as
fronteiras do Brasil; que possa não
apenas estar se fixando em território
nacional, mas que eventualmente entremeie o aparelho de Estado.
O Brasil corre o grave risco, já realidade em alguns de seus vizinhos, de
acordar tarde demais para a ameaça
de ter suas instituições infectadas pelo tráfico. O crime organizado deve,
pois, se tornar prioridade de governo, a exemplo do que já vem fazendo
o Congresso. A mínima leniência
com o tráfico de drogas é intolerável.
Mas, quando o crime ronda a máquina do Estado, a tolerância revolta.
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