São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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ODOR DE IMPUNIDADE

Aquele cidadão paulistano que, por repugnância ou tédio, ainda não se enfastiou de vez de observar a política municipal, acaba de ver comprovada a suspeita de que o governo de Celso Pitta e sua bancada de apoio, para não dizer assédio, negociam mais um pacto de aval a negócios duvidosos. Trata-se da rodada anual de barganha a fim de barrar uma CPI. Foi o que ocorreu em 1997 e 1998; é o que se repete agora devido ao passivo de suspeitas que Pitta carrega desde antes de chegar ao governo.
Membros da cúpula do pittismo reconheceram ontem para esta Folha que parte da notória vereança governista optou por deixar engatilhado um inquérito parlamentar contra o prefeito, com o fito de angariar favores. Não aprova nem arquiva a CPI enquanto Pitta não compensar sua bancada pelo desgaste da cumplicidade, pela má fama decorrente da guarida aos suspeitos de crimes espalhados pela administração municipal. Nada de novo, nem na cidade ou na política nacional, decerto.
Vale lembrar, no entanto, que, na sequência do enterro de CPIs sobre Pitta e seu governo, os fantasmas proliferaram, em odor de impunidade. Foi assim que se lotearam administrações regionais, que se garantiram empregos públicos a ociosos nas empresas do município, que se fez vista grossa às notas frias e superfaturadas do PAS, que se pagou por lixo que não foi varrido, que o negocismo se instalou até no serviço de enterros da prefeitura. A cada CPI derrubada se ergueram feudos ainda maiores de locupletação.
Na sequência desses episódios o pittismo floresceu, obra do encontro de vereança que excedeu o contumaz baixo nível da Câmara e de um homem que chegou à prefeitura em débito financeiro e político. Como sabe o que sucedeu à cidade após as rodadas de barganhas, o cidadão paulistano deve temer o pleno desabrochar do sistema político instalado por Pitta e Paulo Maluf em São Paulo, o que decerto sobrevirá se chegar a bom termo mais um negócio com CPIs.



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