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A palavra da CNBB
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Reuniu-se em Brasília o Conselho
Permanente da CNBB, de 24 a 27 de
agosto de 1999. Os bispos da Igreja Católica oferecem aos membros das comunidades cristãs e à sociedade brasileira palavras de fé que manifestam o
quanto estão conscientes dos desafios
e esperanças do momento atual.
Na primeira parte da declaração, os
bispos se referem à decepção diante
do resultado do julgamento do júri sobre os acusados do massacre em Eldorado do Carajás. Aguardam que a justiça seja feita e que não fiquem impunes autores e responsáveis pelo crime.
Entre as aflições do povo sublinham
o desemprego, a fome, a seca, a violência nas cidades e no campo. Assinalam
o desgaste da credibilidade das instituições políticas devido a formas novas de corrupção e a desvios de recursos públicos sem a devida punição. O
programa de privatização das empresas estatais não tem conseguido os benefícios sociais anunciados. Aumenta
a concentração de renda e se agravam
as condições de pobreza do povo.
Diante dessas e de outras situações, a
palavra dos pastores, a exemplo de Jesus, é de solicitude e de orientação.
1) É preciso preservar as instituições
da democracia. Assim, as manifestações e mobilizações que se intensificam no país sejam "expressão do legítimo uso da liberdade democrática,
em clima de paz e sem nenhum apelo
à violência".
2) Empenhemo-nos por recuperar a
prioridade dos valores éticos e promover ampla participação. Com esse
propósito, são três os pilares a serem
fortalecidos: a) a política esteja subordinada à ética. Nesse sentido, é grande
a expectativa de que seja aprovada a
iniciativa popular de lei contra a corrupção eleitoral, subscrita por 1 milhão de cidadãos; b) a economia igualmente deve ser submetida aos princípios éticos. Não são, portanto, aceitáveis a dominação da lógica do mercado e a globalização que gera exclusão
social; c) incentive-se sempre mais a
solidariedade que revela a criatividade
do povo oferecendo alternativas para
uma nova sociedade.
3) Os bispos invocam às bênçãos de
Deus para a pátria, por intercessão de
Nossa Senhora Aparecida e, neste momento de crise, convidam a todos os
brasileiros de boa vontade, entidades
da sociedade civil organizada, políticos de todos os partidos e responsáveis pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário a unirem seus esforços para enfrentar e superar os desafios atuais.
A declaração da CNBB, em boa hora, aponta o rumo certo e alimenta
nossa esperança. A confiança em
Deus nos leva a somar esforços para
encontrar soluções válidas e viáveis.
Somos, assim, todos convocados a intensificar o diálogo, a participação e a
busca conjunta de alternativas que garantam melhores condições de vida
para o povo.
Nessa participação para progredir
com mais lucidez e eficácia, procuremos estabelecer e realizar metas concretas para o assentamento digno dos
trabalhadores do campo, marcação
das terras indígenas, medidas em bem
da saúde, habilitação da juventude à
educação e ao trabalho, apoio às cooperativas de pequenos agricultores e
outras iniciativas inadiáveis.
A palavra da CNBB, que há de ser lida e meditada nas comunidades, ajude-nos a compreender que, diante dos
desafios, não podemos nos abater. Pelo contrário, cresce o dever da fé em
Deus e da solidariedade fraterna.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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