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O governo FHC saiu desgastado da marcha das oposições sobre Brasília?
NÃO
Perdeu quem marchou sem norte
ARTHUR VIRGÍLIO NETO
Sem dúvida o governo não saiu desgastado. Afinal, a marcha, que foi pacífica, reuniu número pouco significativo de manifestantes, comparativamente aos ônibus fretados e à sofisticada logística empenhada. Foram cerca
de 30 mil ou 35 mil pessoas, lideradas
por facções divergentes entre si, que,
na sua parte mais expressiva, tiveram
de recuar do discurso golpista inexequível e patético.
Desgastadas saíram as oposições,
que não conseguiram apresentar nenhuma alternativa concreta às políticas formuladas e executadas pelo governo federal. E que não contaram
com a presença, à exceção do gaúcho
Olívio Dutra, dos governadores, dos
que trabalham os dados do mundo
real, no evento. Dois deles -Jorge
Viana e Ronaldo Lessa, respectivamente do PT-AC e do PSB-AL-, por
sinal, criticaram corajosamente a inoportunidade e a inconveniência do ato
público.
Desgastado saiu Luiz Inácio Lula da
Silva, repetindo um discurso cansado
de guerra, que já causou, nos bons
tempos, muito frisson em setores que
viam na irreverente ingenuidade do
bravo líder metalúrgico uma forma
exótica de purgar as próprias culpas.
Em vez de exibir a face do dirigente
maduro e sereno diante de momento
grave da nacionalidade, Lula optou
por se render, outra vez, aos seus incômodos xiitas, desmontando um trabalho de reconstrução da imagem que há
anos vem sendo tentado.
Desgastada ficou a atitude autoritária de confundir 1 milhão de assinaturas com a representação verdadeira e
legítima do conjunto dos brasileiros.
170 milhões de habitantes -106 milhões de eleitores- de repente são
substituídos por número insignificante de signatários de um pretexto vazio
-o da tal CPI da Telebrás-, na viagem delirante de quem deveria acreditar mais na democracia.
Desgastada ficará, ainda mais, a parte da -vá lá!- esquerda brasileira
que tem escrito artigos e entoado loas
ao coronel Hugo Chávez, que vai, pouco a pouco, implantando regime autoritário na Venezuela. Foi buscar, no túnel do tempo, exemplar do mais cabal
militarismo latino-americano, para
afrontar as luzes promissoras do terceiro milênio. No desespero de não ter
programa nem norte, mergulhou no
exemplo irresponsável de populismo
que a melhor consciência subcontinental pensava ter enterrado.
O presidente Fernando Henrique,
bem ao invés, reafirmou seu compromisso com a tolerância e com as liberdades. Reagiu, pela palavra dos seus líderes congressuais, contra os inocentes úteis que falaram em interrupção
de um mandato conquistado nas urnas, com 13 milhões de votos sobre o
segundo colocado. Melhor ainda: repisou sua aversão a golpes, golpismos e
golpistas, mostrando ao país o compromisso de que jamais se afastaria, ele
próprio, nem um milímetro sequer,
dos caminhos constitucionais.
Aberto a discutir sugestões e propostas concretas que possam, quem sabe,
vir das oposições, o presidente só não
poderia mesmo era debater o vazio, o
inócuo e a generosidade ingênua e populista de quem propõe o paraíso social sem se dispor, por exemplo, a enfrentar o desafio de reformar a Previdência e viabilizar o ajuste fiscal.
A impressão que certos segmentos
opostos ao governo me passam é lamentável: "Vamos agir logo, senão as
coisas melhoram". Aí, quanto pior
melhor. Intuem que a crise está sendo
derrotada: começam, timidamente
ainda, a cair as taxas de desemprego; a
produção industrial sofre incremento;
a inflação fica em um dígito; os investimentos estrangeiros, de longo prazo
-não temos contado com os capitais
voláteis-, já somam quase US$ 20 bilhões; este semestre já é de crescimento; 2000, 2001 e 2002 crescerão a, pelo
menos, 4% ou 5% anuais.
Tudo que precisamos fazer é tornar
coesa a base de apoio ao presidente e
votar, com presteza, a reforma da Previdência, a Lei de Responsabilidade
Fiscal e a reforma tributária, entre outros poucos pontos essenciais. Ou seja,
tudo aquilo que nossos bravos marchadores julgam "prejudicar o Brasil"
e submeter-nos ao jugo do FMI.
Proponho novo balanço em dezembro e mais um em julho de 2000. Será
bem fácil, a partir daí, verificarmos se a
consequência está com a coluna "Não"
(a minha) desta edição da Folha ou
com a coluna "Sim", que deverá vir
embalada pela manifestação aconchegante, porque reduzida, da passeata
dos ônibus fretados.
Arthur Virgílio Neto, 53, é deputado federal (PSDB-AM) e líder do governo no Congresso Nacional. Foi
prefeito de Manaus (1989-93).
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