São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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O governo FHC saiu desgastado da marcha das oposições sobre Brasília?

SIM
O inferno astral está só começando

VIVALDO VIEIRA BARBOSA

Foi bonita a festa, pá! O compositor Chico Buarque diria isso se estivesse conosco na última quinta-feira, como fez na homenagem à Revolução dos Cravos, de Portugal.
Foi de pleno êxito a "Marcha dos 100 Mil". Primeiro porque foi efetivamente dos 100 mil. Isto é, para mais de 100 mil, como até estimou o Corpo de Bombeiros de Brasília, que contou 120 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios. Foi aliás a maior manifestação de Brasília.
Foi bela, ordeira e pacífica. Que belo troco aos que vieram com a história de golpismo e que procuraram intimidar as pessoas com invencionices de ameaça de quebradeira. O aparelho policial exagerado acabou ridículo e inútil.
Todos os participantes tinham nitidez sobre o que queriam: o fim de um governo que maltrata o país e os cidadãos brasileiros. Os trabalhadores, que querem emprego e salário digno. Os aposentados, que exigem respeito. Os servidores, que sempre esperam tratamento com dignidade dos governantes do dia. Os jovens, que sonham com uma perspectiva para o futuro. Os cidadãos todos, que esperam viver em uma nação de respeito. Todos com o rumo bem definido em suas consciências. Quem ficou sem rumo foi o governo FHC.
É preciso que se compreenda que foi um ato de oposição. Um protesto. Um "não" sonoro que muitas consciências endurecidas não podem deixar de ouvir. A marcha, o protesto e o "não" foram dirigidos a Fernando Henrique Cardoso. Vitoriosa a marcha, é evidente que FHC saiu bastante chamuscado, pois um acontecimento como esse não fica em vão na história.
Os índices de pesquisa já apontam FHC como mais rejeitado que Collor na hora do impeachment. A marcha de quinta-feira foi maior que a do "Fora, Collor", foi mais significativa, foi humilhante.
A autoridade do presidente definha aos olhos da nação. E é ele um dos que mais contribuem para isso. Vive tirando o corpo fora, procurando jogar a culpa nos outros, dizendo que gostaria de fazer, mas os outros não fazem ou não permitem.
O caso dos juros é exemplar. Diz que gostaria de reduzir as taxas para patamares razoáveis. Mas o que todos vêem é que o Banco Central não o faz porque o FMI não deixa, para poder atrair dinheiro de fora -e para que as dívidas externas sejam pagas também com dinheiro de fora. Um bolo que cresce a cada dia e que não terá fim.
Diante de uma manifestação como essa, que é um acontecimento histórico, a autoridade do presidente fica ainda mais decadente. Até pelo mundo afora todos conferirão o desprestígio e o desgaste do presidente.
O inferno astral de FHC está só começando e deve piorar daqui para a frente.


Vivaldo Vieira Barbosa, 57, advogado, é deputado federal pelo PDT-RJ.



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