São Paulo, domingo, 28 de setembro de 1997.



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OS CATÓLICOS E O PAPA

Às vésperas da visita do papa João Paulo 2º ao Brasil, pesquisa Datafolha com católicos praticantes de São Paulo e Rio de Janeiro oferece dados para analisar algumas das dificuldades recentes nas relações entre a Igreja Católica e seus fiéis.
No âmbito da prática religiosa, acentua-se a tendência de reorganização dos católicos em grupos que, não sendo dissidências do Vaticano, têm novos líderes e rituais. A maioria dos entrevistados ainda crê nos dogmas básicos, mas 74% deles não aceitam a infalibilidade papal, 62% dizem ser contra o celibato e 64% defendem que a instituição se renove.
No terreno temporal, vai-se definindo um distanciamento entre as normas das encíclicas e os comportamentos ditados pela consciência, seguida por 68% dos entrevistados. Embora boa parte deles ainda se declare contrária ao aborto, à união entre homossexuais e à legalização da maconha, maiorias expressivas manifestaram-se a favor do uso dos preservativos (96% para evitar a Aids, 90% para evitar a gravidez).
O progressismo iniciado a partir do Concílio Vaticano 2º e defendido pela Teologia da Libertação vem-se enfraquecendo. As questões coletivas não suscitam mais o mesmo interesse entre os fiéis. E a visita ao Rio, onde se encontra uma das alas mais conservadoras do clero, que defende uma igreja centrada na hierarquia e distante da política, parece reforçar a tendência ao conservadorismo moral. Isso num momento em que a igreja mostra pouca sintonia com demandas individuais, cada vez mais práticas e imediatistas, de boa parte dos fiéis, as quais têm conduzido muitos deles a novos cultos.
Ao que tudo indica, em sua visita ao Brasil, o papa João Paulo 2º vai estar próximo de um rebanho em busca de novas respostas.




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