São Paulo, Terça-feira, 28 de Setembro de 1999
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A douta solução

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Um e-mail de Campinas, além de entupir o meu notebook com um extenso discurso a favor do governo, me cobra uma definição: quem, na minha ""douta opinião", seria o presidente ideal para o Brasil?
O ""douta" é a ironia possível a que o cidadão campinense chegou. Lembrei aquele sujeito que aparece no início do ""Dom Casmurro". Explicando o título, Machado diz que os vizinhos o consideravam casmurro. O ""dom" foi ironia do tal sujeito que ficou chateado porque Bentinho cochilou durante a leitura de seus versos.
Douta ou burra, minha opinião é que a fragilidade presidencial, pior do que a taxa de rejeição atual, representará três anos de banho-maria na vida nacional.
Alguns setores da oposição sugerem a renúncia -remédio constitucional, que nada tem de golpista. Na minha doutíssima opinião, se alguns fatos da recente vida pública fossem devidamente apurados, haveria motivos até para um impeachment -outro remédio previsto pela Constituição.
Outro dia, em conversa com um amigo que não me considera douto em coisíssima nenhuma, ele me criticava pela insistência com que eu me referia a soluções constitucionais para a crise. Como? Passar o poder a Marco Maciel, um cardeal do PFL? Eu devia estar ou ruim da cabeça ou doente do pé.
Por que não?, perguntei eu. Na atual situação, para preencher o longo hiato até a próxima eleição, seria ótimo procurar uma solução legal e adequada. Não se pode é perder três anos com o desemprego em alta, a esperança em baixa, o moral a zero.
A Constituição estabelece nova eleição em caso de vacância no começo de um mandato. Há gente aflita para descolar uma ida às urnas antes mesmo de 2002.
Seria essa, talvez, a solução ideal. Mas qualquer solução, mesmo que não seja a melhor, será sempre preferível ao vazio em que caímos e no qual perdemos todos.



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