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A douta solução
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Um e-mail de Campinas, além de entupir o meu notebook com um extenso discurso a favor
do governo, me cobra uma definição:
quem, na minha ""douta opinião", seria o presidente ideal para o Brasil?
O ""douta" é a ironia possível a que o
cidadão campinense chegou. Lembrei
aquele sujeito que aparece no início do
""Dom Casmurro". Explicando o título, Machado diz que os vizinhos o consideravam casmurro. O ""dom" foi ironia do tal sujeito que ficou chateado
porque Bentinho cochilou durante a
leitura de seus versos.
Douta ou burra, minha opinião é
que a fragilidade presidencial, pior do
que a taxa de rejeição atual, representará três anos de banho-maria na vida
nacional.
Alguns setores da oposição sugerem
a renúncia -remédio constitucional,
que nada tem de golpista. Na minha
doutíssima opinião, se alguns fatos da
recente vida pública fossem devidamente apurados, haveria motivos até
para um impeachment -outro remédio previsto pela Constituição.
Outro dia, em conversa com um
amigo que não me considera douto
em coisíssima nenhuma, ele me criticava pela insistência com que eu me
referia a soluções constitucionais para
a crise. Como? Passar o poder a Marco
Maciel, um cardeal do PFL? Eu devia
estar ou ruim da cabeça ou doente do
pé.
Por que não?, perguntei eu. Na atual
situação, para preencher o longo hiato
até a próxima eleição, seria ótimo procurar uma solução legal e adequada.
Não se pode é perder três anos com o
desemprego em alta, a esperança em
baixa, o moral a zero.
A Constituição estabelece nova eleição em caso de vacância no começo de
um mandato. Há gente aflita para
descolar uma ida às urnas antes mesmo de 2002.
Seria essa, talvez, a solução ideal.
Mas qualquer solução, mesmo que
não seja a melhor, será sempre preferível ao vazio em que caímos e no qual
perdemos todos.
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