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É preciso debater
País tem hoje rara chance de ver candidatos à Presidência da República discutirem principais problemas nacionais
CONSAGRADO pelo cálculo
do marketing político, o
hábito dos líderes nas
pesquisas eleitorais de
não comparecer a debates é condenável. A tentativa de se preservar de eventuais arranhões entra
em franco conflito com a disposição, democrática, de enfrentar
o contraditório.
Depois de aprovada a reeleição, o argumento ganha força.
Pela simples razão de que o líder
nas pesquisas é com freqüência o
governante de turno, o debate
torna-se ocasião não apenas para
discutir propostas como para
sustentar as realizações da gestão que está se encerrando.
Em contexto de crise política,
as razões tornam-se mais evidentes. Descontados poucos meses de calmaria, a administração
petista no governo federal vem
há mais de um ano enredada numa sucessão de escândalos para
os quais a resposta do presidente
tem deixado a desejar.
O confronto com a inquirição
dos demais candidatos é um teste crucial. O eleitor tem o direito
de avaliar o desempenho do presidente antes de decidir o voto
-ainda mais de um presidente
pouco afeito a entrevistas e historicamente avesso a contestações públicas. Seria portanto um
ganho para a transparência do
processo eleitoral a presença de
Luiz Inácio Lula da Silva no debate de hoje à noite na TV Globo.
O tema da vez é a chamada crise do dossiê. Para além das platitudes já repetidas à exaustão sobre a necessidade de investigar o
caso, faltam explicações sobre a
incapacidade de cortar vínculos
com a banda podre do PT. Seguem insondáveis os pontos de
conexão entre a Presidência e o
séquito de assessores -capazes
de quase tudo para manter-se no
poder- que floresce à volta do
primeiro mandatário e que nem
a crise do mensalão bastou para
extirpar dos quadros do partido.
Mas a discussão não se encerra
com a crise. É atribuição básica
do candidato à reeleição, bem como de seus concorrentes, apresentar diretrizes para o mandato
que se inicia em 2007. Sabe-se
que não há recursos para manter
o gasto público na mesma toada.
A queda nas já modestas perspectivas de crescimento econômico para este e o próximo ano
não deixa dúvida: sem atacar o
problema fiscal, nenhum presidente dispõe de condições para
cumprir promessas. Ainda nessa
semana, o Ministério do Planejamento foi pego de surpresa pela
redução na arrecadação tributária e promoveu um corte de R$
1,6 bilhão nos gastos com custeio
e investimentos programados.
O combate a essa erosão orçamentária pressupõe medidas
impopulares para conter a evolução das chamadas despesas correntes. Não é praxe abrir o "saco
de maldades" em época de eleição. Mas é impensável um debate político que ignore a discussão
a respeito das saídas para o estrangulamento financeiro do Estado e a estagnação econômica.
Os candidatos são suficientemente versados em eufemismos
para trazer o tema à tona sem
prejuízo eleitoral.
Às vésperas das eleições, privar
o eleitor de elementos para elaborar um juízo ponderado é gesto que em nada contribui para o
avanço da democracia no Brasil.
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