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TENDÊNCIAS/DEBATES
Queremos a verdade!
JORGE BORNHAUSEN
Restou, única e solitária, a questão essencial: quem forneceu o dinheiro para a operação suja do dossiê? É o que a PF deve à nação
NA 25ª HORA , só há espaço para
a verdade. É o fim do tempo, o
limiar da revelação, a hora da
decisão.
No terreno político e das evidências, expirou o prazo para a acusação.
A defesa também já se manifestou. O
próprio está nas ruas, nas rádios, na
TV, esbravejando, acusando seus
companheiros de "aloprados" em
atos de confissão explícita de culpa. A
oposição também está usando todos
os espaços. Houve réplicas e tréplicas.
Restou, única e solitária, a questão essencial: quem, precisamente, no governo e no PT, forneceu o dinheiro
para a operação suja do dossiê?
Pois é isso o que a Polícia Federal
deve à nação e o que a sociedade civil
exige. Queremos a verdade!
Só a verdade evitará condenações
injustas, mas também impedirá que
culpados passem por vítimas. Só a
verdade impedirá fantasias e metáforas -ninguém é Cristo nem diabo-, e
só a verdade impedirá que marqueteiros inescrupulosos tentem, como começaram a experimentar, fazer de
"um limão uma limonada". Só a verdade impedirá que o resultado das
eleições -a mais democrática e livre
da história deste país- se transforme
numa querela judicial sem fim que
comprometerá, inevitavelmente, a
rotina das instituições.
Só a verdade inteira, completa, sem
restrições mentais, dirá se o presidente da República tem culpa, como o
acusamos, ou se foi traído, como ele
se defende. Traído? Esse é um esclarecimento decisivo.
O eleitor vai decidir se aceita manter no Planalto, reelegendo-o, um
presidente cego e surdo. Caso contrário, como Lula explicará o fato de ter
sido enganado por seu guarda-costas
mais próximo, por seu churrasqueiro
preferido, pelo presidente do seu partido e coordenador da campanha, pelo marido da sua secretária particular,
por ministros de Estado e diretores
de bancos estatais, seus companheiros mais afins, que montavam uma
operação criminosa no seu palácio,
no dia-a-dia do expediente?
Como pregam os moralistas religiosos, só a verdade salva. Ou condena, não esqueçamos a alternativa, já
que é por temer a condenação que o
governo e o PT estão evitando a todo
custo a apresentação dos resultados
das investigações da Polícia Federal.
A verdade, porém, não é segredo de
conveniência. Não se pode guardá-la
por oportunismo ou escamoteá-la
por tática. Escondê-la, pela lei penal,
é crime, compromete quem a sonega
da Justiça e não beneficia quem se
aproveita dessa sonegação.
A celeridade com que o Coaf acusou
inocentes -como foi vítima o caseiro
Francenildo, façanha petista e do governo Lula, rastreando uma conta de
menos de 30 mil reais- precisa ser
usada para rastrear o R$ 1,7 milhão,
principalmente quando há notas seriadas e pacotes de dinheiro com cintas bancárias.
Até o início de setembro, a cavalgada mentirosa da campanha de Lula se
encaminhava para um "landslade"
-avalanche, em inglês-, expressão
usada pelos jornais em 7 de novembro de 1972 para qualificar a vitória
esmagadora da reeleição de Nixon,
que derrotou o democrata McGovern
em todos os Estados, com exceção de
um.
Muitos acreditavam, pelas pesquisas, que Lula poderia repetir o fenômeno no Brasil a 1º de outubro. O próprio Lula estava certo disso. Ele sabia
que nunca um candidato falseou tanto a verdade, atribuindo a si mesmo
avanços sociais que não promoveu,
mas copiou do antecessor. Nunca um
governo foi mais corrupto: nenhum
partido político brasileiro aparelhou
a máquina estatal tão abusivamente
nem administrou com mais escândalos de corrupção.
Mas, tal como aconteceu nos EUA
com Nixon, o comitê da reeleição de
Lula deixou um rastro de lama. Lá,
apenas depois de um ano o crime seria apurado, provocando o impeachment. Aqui, porém, se descobriu
quando ainda há tempo para uma solução menos traumática. Os criminosos, operadores das operações sujas,
tiveram menos cuidado, se expuseram se mais e se revelaram mais precocemente, três semanas antes das
eleições. Não precisaremos de impeachment: o povo decidirá no voto.
No caso de Nixon, a verdade foi descoberta pelo rastreamento do dinheiro da sabotagem de Watergate. Aqui,
não será diferente. A verdade será alcançada quando se encontrar a origem do dinheiro do dossiêgate.
Queremos a verdade, só a verdade,
nada mais que a verdade.
JORGE BORNHAUSEN, 68, é senador pelo PFL-SC e presidente nacional do partido. Foi governador de Santa Catarina (1979-82), ministro da Educação (governo Sarney) e da
Secretaria de Governo da Presidência da República (governo Collor).
bornhausen@senador.gov.br
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