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Vale-tudo federal
PMDB de Renan derrota Lula e rebaixa mais o nível da negociação política na capital, bem ao estilo da sessão secreta do Senado
NINGUÉM freqüenta o
Senado Federal a passeio. Se esta verdade
pedestre já não estava
evidente para todos, a rejeição da
medida provisória que criava a
Secretaria de Planejamento de
Longo Prazo (presenteada por
Lula a Roberto Mangabeira Unger) deve ser o bastante para
convencer incautos de que o Senado de Renan Calheiros não está para brincadeiras. O que na
Casa se faz, e se barganha, ali
mesmo se paga.
O presidente do Senado, mais
vivo do que nunca, colhe os frutos do novo rebaixamento de
costumes políticos propiciado
por sua absolvição em sessão secreta. Se a ausência de decoro segue assim impune, como garantido por 40 votos e 6 abstenções
na infame deliberação, desaparece também até mesmo o pudor
de manusear de modo acintoso
as moedas de troca vigentes na
câmara alta do Parlamento nacional: vantagens (cargos e verbas) e proteção mútua.
Não há explicação honrosa para a derrota da Presidência na
votação da medida provisória.
Ou foi retaliação de Calheiros
por perceber-se abandonado no
sereno pelo Planalto, ou foi insatisfação do PMDB por ser preterido no preenchimento de diretorias da Petrobras -ou, o que é
mais provável, ambas as coisas.
Tem certa razão Lula ao dizer,
agora, que não houve barganha:
por entender o mesmo é que
seus parceiros de coalizão lhe
aplicaram o passa-moleque.
Mangabeira Unger, ao ver a sinecura perder-se num horizonte
tão incerto quanto o futuro de
sua secretaria, pode ao menos
consolar-se com o óbvio: nada
houve de pessoal na decisão. O filósofo terminou preterido só
porque sua pasta representava
ocasião significativa para o
PMDB do Senado alvejar o presidente da República, derrubando
ato de grande repercussão folclórica mas nenhum efeito prático
(ao menos no curto prazo).
Cargos por cargos (e estavam
em jogo mais de 600 deles), vantagens por vantagens, o recado
dos senadores é que eles tampouco abrem mão da parte que
lhes cabe no latifúndio estatal.
Distribuíram-se as fichas da locupletação generalizada.
Lula pode tentar dourar a pílula amarga que teve de engolir e
dizer que a democracia é como
um jogo, no qual se perde e se ganha. Nem por isso fica isento da
co-responsabilidade de erigir a
política em jogo de azar, no qual
o interesse público leva sempre a
pior. Afinal de contas, foi com votos e omissões de seu partido, se
não sob orientação direta do palácio, que Renan Calheiros obteve a proteção exigida em paga de
serviços passados. Blefou, apostou alto e ganhou a rodada, livrando-se da cassação. É provável que se considere cacifado para permanecer presidente do Senado e que por isso tenha dobrado as apostas.
Não será surpresa alguma se
elas continuarem subindo entre
os muitos jogadores profissionais do PMDB e de outros partidos, estimulados todos pela atmosfera de cassino que se espraia em Brasília. Na votação da
CPMF, Lula literalmente terá de
pagar para ver. E vale tudo.
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