São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Uma questão de "consciência"

SÃO PAULO - De repente, aparece no "Jornal Nacional" um certo Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Usa adequadamente uniforme de deputado, aquele terno bem cortado, camisa e gravata sóbrias, tudo combinando, tudo muito decoroso. Talvez o uniforme de deputado seja tudo o que restou de decoro na Casa.
Quando o deputado abre a boca, o decoro vai para o ralo. Diz que, "agora", pode-se votar, "com consciência", a CPMF. Na "novilíngua" dos deputados, fisiologia descarada virou "consciência". Ou, mais exatamente, os deputados adquiriram "consciência" sobre os extraordinários méritos da CPMF à custa de R$ 32 milhões diários, que é quanto o governo está liberando de emendas dos pais da pátria, conforme reportagem do jornalista Ranier Bragon nesta Folha.
Minha grande curiosidade é saber se o deputado acredita naquilo que diz e se acha que algum telespectador acredita. É bom que saiba que apenas 11% dos brasileiros confiam nos políticos, diz pesquisa encomendada pela Associação dos Magistrados Brasileiros, divulgada ontem na própria Câmara dos Deputados. Aposto que só meia dúzia deles, no máximo, ruborizou-se.
Não se ruborizaram, por exemplo, líderes do PSDB ao recomendar silêncio ao seu ex-presidente, Eduardo Azeredo, que caiu na besteira de ser franco e dizer que a parte "tucanoduto" do "valerioduto" irrigou também a campanha presidencial de FHC.
Aposto que aqueles 11% que confiam nos políticos acham que, em vez de pedir silêncio, os partidos deveriam é cobrar a total exposição pública dos malfeitos, não apenas os alheios mas os próprios.
A reação do PSDB talvez leve Eduardo Azeredo a desdizer o que disse, claro que após pôr a mão na tal "consciência", a mesma que convenceu os peemedebistas a votar a CPMF.


crossi@uol.com.br

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