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CLÓVIS ROSSI
Uma questão de "consciência"
SÃO PAULO - De repente, aparece
no "Jornal Nacional" um certo
Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Usa adequadamente uniforme de deputado, aquele terno bem
cortado, camisa e gravata sóbrias,
tudo combinando, tudo muito decoroso. Talvez o uniforme de deputado seja tudo o que restou de decoro na Casa.
Quando o deputado abre a boca, o
decoro vai para o ralo. Diz que,
"agora", pode-se votar, "com consciência", a CPMF. Na "novilíngua"
dos deputados, fisiologia descarada
virou "consciência". Ou, mais exatamente, os deputados adquiriram
"consciência" sobre os extraordinários méritos da CPMF à custa de R$
32 milhões diários, que é quanto o
governo está liberando de emendas
dos pais da pátria, conforme reportagem do jornalista Ranier Bragon
nesta Folha.
Minha grande curiosidade é saber se o deputado acredita naquilo
que diz e se acha que algum telespectador acredita. É bom que saiba
que apenas 11% dos brasileiros confiam nos políticos, diz pesquisa encomendada pela Associação dos
Magistrados Brasileiros, divulgada
ontem na própria Câmara dos Deputados. Aposto que só meia dúzia
deles, no máximo, ruborizou-se.
Não se ruborizaram, por exemplo, líderes do PSDB ao recomendar silêncio ao seu ex-presidente,
Eduardo Azeredo, que caiu na besteira de ser franco e dizer que a parte "tucanoduto" do "valerioduto"
irrigou também a campanha presidencial de FHC.
Aposto que aqueles 11% que confiam nos políticos acham que, em
vez de pedir silêncio, os partidos
deveriam é cobrar a total exposição
pública dos malfeitos, não apenas
os alheios mas os próprios.
A reação do PSDB talvez leve
Eduardo Azeredo a desdizer o que
disse, claro que após pôr a mão na
tal "consciência", a mesma que
convenceu os peemedebistas a votar a CPMF.
crossi@uol.com.br
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