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ROGÉRIO GENTILE
Baixos salários e prevaricação
TEM RAZÃO o advogado Alberto Toron, do Conselho Federal da OAB, quando afirma
que os salários pagos pelo governo
José Serra (PSDB) aos policiais civis de São Paulo são "aviltantes".
Serra paga um dos piores salários do país, apesar da capacidade
de arrecadação do Estado. Um delegado em início de carreira em São
Paulo, por exemplo, recebe R$
3.708,18. No Piauí, R$ 7.141,50. Em
Roraima, R$ 8.500. No Paraná, o
salário inicial é de R$ 9.599,63.
O governo paulista alega que são
poucos os delegados em começo de
carreira no Estado que recebem a
faixa salarial mais baixa -seriam
apenas 15. Diz que o salário médio
da categoria é de R$ 7.085,85.
Ok, vá lá, mas o fato é que esse tal
salário médio é mais baixo do que o
piso pago aos delegados no Distrito
Federal e em 11 Estados do país
(dados oficiais de agosto), incluindo Maranhão, Alagoas e Sergipe.
O salário-base dos investigadores também não é grande coisa:
R$ 1.757,82 em cidades com menos
de 200 mil habitantes (ou seja, o
15º na comparação com os demais
Estados), R$ 1.975,82 em cidades
paulistas médias (o 10º no ranking)
e R$ 2.324,82 nos municípios com
mais de 500 mil habitantes (o 6º).
Mas, se os salários são baixos, é
evidente que a população não pode
ser punida por isso. Greve de policial não é ajuste de contas com o
Estado. É salvo-conduto para criminosos e desforra contra o cidadão. E, pior, contra o cidadão fragilizado pela violência. Ao não atendê-lo, o policial civil o torna vítima
pela segunda vez.
O motorista de caminhão Dalmir
da Silva Filho sabe bem o que é isso. Na última quarta, ele foi rendido por três assaltantes. Além de
perder a carga que transportava,
foi levado a um cativeiro, onde passou três horas sob ameaças.
Na polícia, seu drama prosseguiu. Na primeira delegacia, os policiais se recusaram a registrar o
boletim de ocorrência, necessário
para cobrar o seguro da mercadoria. Na segunda, também. Só conseguiu ser atendido na terceira
tentativa, após horas. E apenas
porque havia um repórter no local.
O problema é que, aproveitando-se da insatisfação generalizada
com os salários, os sindicatos adotaram a estratégia de atingir sem
dó o cidadão com o objetivo de colocá-lo contra o governo.
Negociação é o de menos. O importante é criar o fato político em
plena eleição -tanto que uma das
reivindicações em pauta é eleger o
delegado-geral, o cargo mais alto
na Polícia Civil, responsável por
implantar a política de segurança
do governo com o comandante da
Polícia Militar. Medida que o Estado já declarou ser inconstitucional,
inadmissível e inegociável.
O risco é a categoria dar um tiro
no pé, como já disse o coronel da
reserva da PM José Vicente da Silva Filho. Policial que se recusa a
trabalhar comete crime de prevaricação. E não merece salário maior.
ROGÉRIO GENTILE é editor de Cotidiano
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