São Paulo, segunda-feira, 28 de setembro de 2009

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RUY CASTRO

Apenas o melhor

RIO DE JANEIRO - Nos casamentos do passado, quando o excesso de ócio tornava a patroa ansiosa, neurastênica ou apenas chata, o bom marido oferecia-se para pagar-lhe um curso de decoração, cerâmica ou ikebana. Os mais abonados mandavam a mulher passar seis meses em Paris. Os mais abonados e intelectualizados mandavam a mulher fazer o curso de decoração, cerâmica ou ikebana em Paris.
O Senado Federal é tão generoso -e abonado- quanto esses maridos. Seus titulares, até há pouco, estavam usando a cota de passagens que lhes reservava o Congresso para transportar mulheres (as deles e as outras), parentes e amigos para lá e para cá, no Brasil e no exterior. Descobre-se agora que os senadores também são pródigos em mandar seus servidores para fazer cursos de extensão fora do país, com passagens, despesas e os ditos cursos pagos parcialmente ou na íntegra pela Casa.
Entre inúmeros casos, um servidor foi estudar inglês durante três meses no Havaí. Outro aplicou-se por dois meses num curso de "jornalismo investigativo" em Bonn, na Alemanha. Um terceiro está cumprindo um estágio de um ano no doutorado em linguística da Universidade da Califórnia. E ainda outros foram cursar antiterrorismo em Washington, judô em Tóquio e -não ria- capoeira em Cingapura.
Diante desses senadores, os maridos do passado eram uns muquiranas sem imaginação. É verdade que faziam suas extravagâncias com o próprio dinheiro, ao passo que a verba dos senadores sai do nosso bolso. Sendo assim, devemos exigir que esta seja bem usada.
Sugiro que os servidores do Senado sejam despachados para cursos de feng shui em Hong Kong, de semiologia saussuriana superior na Sorbonne ou de terapia de vidas passadas em Miami. Para nossos funcionários, apenas o melhor.


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