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HÁ 21 DIAS
Desde o dia 7 de outubro, o território afegão é bombardeado
quase diariamente pelas Forças Armadas norte-americanas e britânicas. O passar do tempo, os resultados por ora frustrantes da ação, a
proliferação de notícias, relatos e
imagens sobre vítimas civis, o aumento das rusgas que ameaçam
romper a coalizão internacional na
qual a ofensiva se sustenta e, até, o
ambiente de virtual pânico que se
instalou nos Estados Unidos acerca
do bioterrorismo são alguns fatores
que começam a minar o apoio a um
prolongamento da ação militar.
Se vale como regra a trajetória de
outros conflitos em que os militares
norte-americanos estiveram envolvidos, é de esperar que não resista ao
tempo uma convergência tão forte
quanto a que transformou George
W. Bush, cuja eleição esteve eivada de
dúvidas, numa liderança inconteste
nos EUA. Basta lembrar que o pai de
Bush, então presidente norte-americano, iniciou com amplo respaldo
popular a ofensiva militar contra o
Iraque, em janeiro de 1991. Vinte e
um meses depois, perdia a reeleição
para o democrata Bill Clinton.
Em favor de Bush filho, diga-se que
nunca na história os Estados Unidos
sofreram um ataque tão devastador
quanto o que assassinou, em minutos, cerca de 5.000 pessoas. Mas o
que se vai impondo como realidade é
o que, no início, apenas a retórica das
autoridades de Washington registrava como lugares-comuns. O terrorismo que elaborou e perpetrou os
atentados suicidas não tem pátria,
não está confinado em território nenhum. Tampouco sua capacidade de
causar estragos pode ser anulada pela ação militar convencional.
Se a proposta da ofensiva das Forças Armadas de EUA e Reino Unido
era a de liquidar o grupo terrorista Al
Qaeda e remover os radicais talebans
do poder, a ausência de resultados
mais visíveis até agora -seja a captura de Osama bin Laden e asseclas, seja a derrota do Taleban- permite
questionar a sua efetividade. A progressiva vitimização da população civil -inclusive de crianças- põe em
discussão a legitimidade do prolongamento dos bombardeios maciços.
O presidente George W. Bush declarou, no início do conflito, que o
que ele liderava não era uma ofensiva
contra o povo afegão, mas sim contra os terroristas e o regime que lhes
dá guarida, o Taleban. Pois os norte-americanos terão oportunidade de
pôr à prova esse belo discurso.
Proveio da mais alta autoridade das
Nações Unidas para os direitos humanos, Mary Robinson, a proposta
de que os EUA suspendam os bombardeios ao Afeganistão para que a
ajuda humanitária possa chegar com
efetividade à região. A entrada do inverno, rigorosíssimo em boa parte
daquele país, se soma às condições já
bastante miseráveis e precárias de
uma população sob fogo intenso e se
torna ameaça direta à vida de milhares de pessoas inocentes.
Deixar que uma massa de civis sucumba de fome e de frio não está previsto no "mandato moral" para perseguir seus agressores que os EUA
obtiveram na trágica manhã daquela
terça-feira, 11 de setembro.
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