São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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MAIS DEMOCRACIA

A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva expressa um duplo significado democrático. Pela quarta vez desde o fim do regime militar, os brasileiros elegem seu presidente de forma livre e direta. A cada pleito, as instituições se aprimoram e se fortalecem. O resultado de ontem é demonstração eloquente de que nossa democracia comporta real alternância no poder dentro das regras do jogo.
Por suas origens sindical, popular e partidária, o eleito traduz mais do que uma renovação nos círculos dirigentes. Ele personifica, no momento, expectativas seculares _há muito reconhecidas e sempre postergadas_ de redução da desigualdade social e democratização das oportunidades. Simboliza, mais que ninguém, amplas parcelas mal aquinhoadas pelos benefícios do progresso.
Seu governo terá de fazer frente a uma situação dramaticamente adversa, em que a preservação do equilíbrio econômico, hoje ameaçado, demandará alta competência e responsabilidade. Parte das expectativas despertadas pela eleição será frustrada; outra parte será eventualmente atendida após um período de ajuste duro e impopular. Ceder à tentação demagógica será converter a vitória em mais uma aventura populista, fadada ao fracasso.
O que se espera do presidente eleito, além do evidente respeito às leis e contratos, é que conduza o país de forma gradual rumo a um modelo menos dependente da poupança externa, apto a gerar as condições macroeconômicas que permitam uma retomada do desenvolvimento. Não foi outro o tema que predominou ao longo da campanha e com o qual todos os candidatos se comprometeram.
Depois de tantos anos em que moveu oposição intransigente, o Partido dos Trabalhadores chega, enfim, mais maduro e realista, ao poder federal. Terá ocasião de verificar a distância que separa promessas, mesmo quando bem-intencionadas, e resultados concretos. Ao saudar a legitimidade do presidente Lula, a Folha se compromete a manter sua linha editorial de independência e crítica, na convicção de que o melhor serviço que um jornal presta ao país é iluminar, questionar e discutir a atuação de seus governantes.


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