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AGORA É O FMI
O governo de Luiz Inácio Lula
da Silva começa apenas em janeiro, e o presidente Fernando Henrique Cardoso tem feito esforço notável para dar consistência e transparência à transição. Mas, com a economia do país em crise e dependente
do Fundo Monetário Internacional,
esses dois meses antes da posse serão mais que uma rotineira transferência do poder.
Decisões urgentes precisam ser tomadas em muitas áreas sensíveis da
economia. Serão decisões não apenas compartilhadas pelas equipes de
Lula e de FHC, mas sobretudo ditadas pelas exigências do FMI, organismo financeiro que é o fiador em
última instância da moeda brasileira.
Reformas estruturais e projetos de
desenvolvimento são peças importantes da mudança do modelo econômico prometida pelo PT. No curtíssimo prazo, entretanto, as atenções estarão voltadas principalmente
para o relacionamento do governo
brasileiro com o FMI.
O ideal para Lula é que FHC submeta já o país às terapias dolorosas
que os mercados associam à boa governança econômica.
Em tese, quanto mais intensa a dose do ajuste econômico nos próximos meses, mais cedo poderá o governo Lula transitar para uma agenda
mais positiva, em que a estabilidade
esteja sob menos risco e a economia
possa voltar a crescer, sujeita, evidentemente, aos rumos incertos da economia mundial.
É importante notar, aliás, que essa
difícil dialética entre buscar novos
modelos de desenvolvimento e ater-se às políticas de curto prazo que
agradem aos mercados foi uma das
marcas da era FHC.
Nunca se chegou propriamente a
um novo modelo, sustentável no longo prazo, embora muitas das características do nacional-desenvolvimentismo tenham sido eliminadas
com privatizações e reformas. Mas,
na prática, as sucessivas crises internacionais, a confiança cega no financiamento externo e o fracasso em
completar a agenda de reformas no
Congresso levaram o país à dramática condição atual.
O programa econômico de Lula
também promete reformas (tributária, previdenciária, do mercado de
capitais). Sob o FMI, no entanto, a
profundidade, o sentido e o ritmo
dessas reformas continuarão sujeitos às condicionalidades impostas
pelo consenso dos mercados.
O ajuste fiscal é doloroso e as decisões relativas ao Orçamento precisam ser tomadas rapidamente. A reforma do Estado empreendida pelo
governo FHC, os contornos da nova
legislação sobre responsabilidade
fiscal e mesmo a mecânica de planejamento de gastos públicos criaram
limites que praticamente imobilizam
o novo governo no curto prazo.
Os efeitos da crise cambial também
estarão em cena nos próximos meses, mesmo levando em conta a hipótese de os mercados concederem a
Lula um período de lua-de-mel, com
menos pressão contra o real.
Reajustes de tarifas e repasses de
choques de custos estão na agenda
de um número significativo de agentes econômicos, da Petrobras às concessionárias de energia elétrica, passando por setores exportadores, que
se beneficiam do real desvalorizado,
mas que, em muitos casos, são também empresas importadoras.
Além dos desafios fiscal, cambial e
das pressões de custos, inflacionárias, a economia brasileira vem gerando saldos no comércio exterior,
que resultaram, nos últimos meses,
da contenção da atividade econômica, especialmente por meio da manutenção de taxas de juros reais elevadas e do corte de gastos.
Dificilmente será possível conciliar, no curto prazo, recuperação
econômica e geração de grandes superávits no comércio exterior.
São essas dimensões conflitantes
da política macroeconômica que
compõem o mapa de desafios monitorado detalhada e cotidianamente
pelos mercados. Sob Lula, o Brasil
continuará a ser uma economia tutelada pelo FMI.
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