|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCIO AITH
Covardia
SÃO PAULO - Após meses de uma polêmica pública sobre as raízes das altas taxas de juros no Brasil, o confuso
ministério de Lula nos ofereceu dois
diagnósticos, que não se excluem: 1)
os juros são altos porque a dívida pública e entraves legais sugam o crédito que deveria ir para o setor privado;
2) há pouca competição e muita concentração nos mercados financeiros.
Difundida a tese, esperava-se um
tratamento imediato e simultâneo
aos dois diagnósticos. Não foi o que se
viu. Esforços foram centrados com
valentia no primeiro. O segundo foi
esquecido covardemente, ainda que
o governo aponte seu programa de
microempréstimos [o "Quem Quer
Dinheiro?" oficial] como um estímulo à competição no setor.
Em agosto, o BC reduziu de 60%
para 45% a alíquota do compulsório
para depósitos à vista, como queriam
os bancos. Na ocasião, estimou que
R$ 8,2 bilhões viessem a ser injetados
na economia. Sobram indícios de que
esse dinheiro não veio para mim nem
para o leitor.
Além disso, está sendo aprovada
uma lei de falências genuinamente
pró-bancos, baseada na tese de que,
eivado de poderes para depenar trabalhadores de empresas falidas, o sistema financeiro nos recompensará
com crédito em vez de comprar títulos do governo.
Resta, então, saber por que o segundo problema -a falta de competição- foi esquecido. É difícil saber,
mas multiplicam-se os exemplos de
covardia política.
O governo colocou na geladeira o
projeto para tirar do BC o monopólio
da análise de fusões e de conluios de
instituições financeiras. Hoje, o Cade
e a SDE estão de mãos atadas para
investigar bancos. Além disso, o BC
interrompeu pressões da gestão anterior contra as taxas inacreditavelmente parecidas das administradoras de cartões de crédito.
São apenas dois exemplos de hesitação de um governo que não deveria
ter medo de ser feliz.
Texto Anterior: Editoriais: FUMAÇA FRANCESA Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Só fantasia? Índice
|