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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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MARCIO AITH

Covardia

SÃO PAULO - Após meses de uma polêmica pública sobre as raízes das altas taxas de juros no Brasil, o confuso ministério de Lula nos ofereceu dois diagnósticos, que não se excluem: 1) os juros são altos porque a dívida pública e entraves legais sugam o crédito que deveria ir para o setor privado; 2) há pouca competição e muita concentração nos mercados financeiros.
Difundida a tese, esperava-se um tratamento imediato e simultâneo aos dois diagnósticos. Não foi o que se viu. Esforços foram centrados com valentia no primeiro. O segundo foi esquecido covardemente, ainda que o governo aponte seu programa de microempréstimos [o "Quem Quer Dinheiro?" oficial] como um estímulo à competição no setor.
Em agosto, o BC reduziu de 60% para 45% a alíquota do compulsório para depósitos à vista, como queriam os bancos. Na ocasião, estimou que R$ 8,2 bilhões viessem a ser injetados na economia. Sobram indícios de que esse dinheiro não veio para mim nem para o leitor.
Além disso, está sendo aprovada uma lei de falências genuinamente pró-bancos, baseada na tese de que, eivado de poderes para depenar trabalhadores de empresas falidas, o sistema financeiro nos recompensará com crédito em vez de comprar títulos do governo.
Resta, então, saber por que o segundo problema -a falta de competição- foi esquecido. É difícil saber, mas multiplicam-se os exemplos de covardia política.
O governo colocou na geladeira o projeto para tirar do BC o monopólio da análise de fusões e de conluios de instituições financeiras. Hoje, o Cade e a SDE estão de mãos atadas para investigar bancos. Além disso, o BC interrompeu pressões da gestão anterior contra as taxas inacreditavelmente parecidas das administradoras de cartões de crédito.
São apenas dois exemplos de hesitação de um governo que não deveria ter medo de ser feliz.


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