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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Eles merecem

RIO DE JANEIRO - Pessoalmente, gostaria de me divertir de outras formas e com outras coisas. Mas não deixa de ser interessante (e saudável) o festival de denúncias sobre nepotismo e uso indevido do dinheiro público em viagens particulares de nossas autoridades. Ainda bem.
Disse que é um espetáculo saudável -e o é, realmente-, pois em nada se compara a espetáculos de governos anteriores, que movimentavam contas em paraísos fiscais, faziam desenfreada corrupção administrativa, jardins babilônicos na Casa da Dinda e aventuras financeiras daquele que um ex-presidente da República chamava de "nosso Pablito", referindo-se a seu tesoureiro particular, PC Farias.
As viagens indevidas de dois ministros, somadas, não dariam para comprar o Elba adquirido pelo Collor -o menor de seus deslizes administrativos. E o nepotismo dos hierarcas do atual regime pode ser discutido, uma vez que as mulheres e ex-mulheres nomeadas para o serviço público são tidas e sabidas como competentes. Pior seria se, além de casadas ou descasadas das autoridades, fossem analfabetas e corruptas.
É bem verdade que a extensão e o peso das irregularidades invocadas combinam espantosamente com a mediocridade operacional do atual governo, que ainda não deslanchou, patinando há dez meses numa preparação do terreno que nunca está definitivamente preparado, pois exige que a sociedade faça a sua parte, uma vez que já considera feita a parte que lhe cabe.
Benditos escândalos que nem chegam a ser escândalos! Nem Benedita nem o ex-secretário Luiz Soares estão arrependidos do que fizeram, pois consideram honesto o que fizeram e o fariam novamente se novamente tivessem oportunidade.
Palmas para eles! -como pedia o Chacrinha aos calouros que se apresentavam em seu programa. Eles merecem. Mas o programa, embora divertido, é de pasmosa mediocridade.


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