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CARLOS HEITOR CONY
Eles merecem
RIO DE JANEIRO - Pessoalmente, gostaria de me divertir de outras formas
e com outras coisas. Mas não deixa
de ser interessante (e saudável) o festival de denúncias sobre nepotismo e
uso indevido do dinheiro público em
viagens particulares de nossas autoridades. Ainda bem.
Disse que é um espetáculo saudável
-e o é, realmente-, pois em nada se
compara a espetáculos de governos
anteriores, que movimentavam contas em paraísos fiscais, faziam desenfreada corrupção administrativa,
jardins babilônicos na Casa da Dinda e aventuras financeiras daquele
que um ex-presidente da República
chamava de "nosso Pablito", referindo-se a seu tesoureiro particular, PC
Farias.
As viagens indevidas de dois ministros, somadas, não dariam para comprar o Elba adquirido pelo Collor -o
menor de seus deslizes administrativos. E o nepotismo dos hierarcas do
atual regime pode ser discutido, uma
vez que as mulheres e ex-mulheres
nomeadas para o serviço público são
tidas e sabidas como competentes.
Pior seria se, além de casadas ou descasadas das autoridades, fossem
analfabetas e corruptas.
É bem verdade que a extensão e o
peso das irregularidades invocadas
combinam espantosamente com a
mediocridade operacional do atual
governo, que ainda não deslanchou,
patinando há dez meses numa preparação do terreno que nunca está
definitivamente preparado, pois exige que a sociedade faça a sua parte,
uma vez que já considera feita a parte que lhe cabe.
Benditos escândalos que nem chegam a ser escândalos! Nem Benedita
nem o ex-secretário Luiz Soares estão
arrependidos do que fizeram, pois
consideram honesto o que fizeram e o
fariam novamente se novamente tivessem oportunidade.
Palmas para eles! -como pedia o
Chacrinha aos calouros que se apresentavam em seu programa. Eles merecem. Mas o programa, embora divertido, é de pasmosa mediocridade.
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